11 de abril de 2016

Saudades do tempo...por Waldiana Melo

Saudades do tempo...
Hoje começamos a recordar em uma conversa saudosa aqui em casa, momentos marcantes em nossas vidas, a mudança para essa casa, a minha gravidez, o nascimento do Raul...Paramos porque meu pai começou a chorar, era um choro diferente que comoveu a todos nós, ele vazia "bico", como uma criança, mas o choro era silencioso e saudoso, ele não precisou me dizer nada, eu entendi exatamente o motivo daquele pranto cuja dor era tão grande que nem sons emitia, só lág...rimas rolavam... Meu pai sentia saudades do tempo, eu acho essa a pior de todas as dores, a certeza que o tempo passou... Dói nele, dói em mim, dói em todos que veem aqueles que amamos envelhecendo, dói na gente envelhecer...As vezes me pergunto se é privilégio ou calvário presenciar essa dor, mas não me permito achar a resposta porque me manter forte é a única alternativa... Ando vivendo, sufocando tantas coisas, ando me deixando de lado, porque se eu olhar para dentro de mim, vou encontrar um mar de dor tão grande que por vezes me paralisa, saudades da minha mãe que não passa, medo do futuro que me aprisiona, são tantas coisas que eu prefiro nem pensar, apenas seguir, tento focar no agora, um dia por vez, uma dor por dia... No fim do dia eu apenas agradeço, a todos os que eu tenho, tudo que eu sou, essa é a única forma que conheço de recomeçar uma nova vida dentro da minha própria, todo dia... Obrigada, meu Deus!

10 de abril de 2016

GUERREIRA DO SANHAROL - Por Mundim do Vale.


GUERREIRA DO SANHAROL

No ano de 1945, chegava pra morar na casa dos meus pais a menina Geralda de Pedro Batista, (hoje Geralda Aquino). Nós fomos nascendo e crescendo com aquele cuidado e bondade daquela que nós chamávamos Cacá e depois Lalái, até que gerou uma grande afeição para todos nós....
No ano de 1957, Lalái casava com Tomaz Aquino. Na época tinha um costume na região, que a moça depois de casada ficava 15 dias na casa dos pais, para só então passar a viver com o marido.
Aqueles 15 dias foram uma tortura para mim e meus irmãos. No dia da partida a choradeira foi geral. Chorava Geralda de um lado e a meninada do outro. Meu pai tentando resolver aquele problema falou:
- Não precisa desse drama, não. Geralda vai é pro Sanharol, não é pra guerra não. Quando for no domingo, Raimundo e João vão deixar as galinhas que ela ganhou de presente de casamento e passam o dia com ela.
No domingo nós arranjamos um pau e meu pai amarrou seis galinhas pelas pernas e nós partimos pela estrada velha. Quando nós passávamos em frente à casa de Zé André, ele disse:
- Eita, que os Piauzinhos vão tomar a freguesia de Soarim.
Na passagem pela bodega de Raimundo Sabino, ele falou:
- Vocês vão dar de comer às raposas do Inharé?
Quando chegamos ao destino final, estava Margarida de Santiago na calçada e foi logo dizendo:
- Eita! Que no chiqueiro de Iraci não ficou nem um pinto.
Depois de fazer a entrega e matar a saudade, nós fomos brincar de baralho com os filhos de Carmelita, no grupo do Sanharol. Enquanto nós estávamos na brincadeira, uma das galinhas foi condenada sumariamente à morte. Não sei o que ela fez para merecer castigo tão grande, melhor seria aplicar uma surra de cipó.
Aquela diligência, eu e meu irmão João Morais fizemos quatro domingos seguidos, Quando acabaram as galinhas, nós procurávamos Seu Nelinho pra saber se ele não tinha alguma
encomenda que quisesse mandar pra Tomazinho,

Isolando as brincadeiras, esse texto foi desenvolvido para dizer do reconhecimento com a guerreira, que foi mãe e irmã para nós.
Abraço de gratidão para Geralda e seus filhos, genros, noras, netos.