14 de julho de 2017

AS EMOÇÕES DE UMA VIDA - Por Fafá Bitu


Durante muito tempo, tive vontade de conhecer outras cidades além da minha querida Várzea Alegre. A mais próxima, tida como cidade grande, era o Crato, distante uns oitenta quilômetros.

Como na época, eu já apresentava sinais de miopia, meus pais planejaram levar-me ao Crato para uma consulta oftalmológica. E o tempo passava, até que certo dia, meu pai me falou: "Amanhã Fátima iremos ao Crato fazer a sua consulta." Foi uma alegria imensa, saber que iria finalmente conhecer a cidade que chamavam de Cratinho de Açúcar e eu não sabia por que!

Fui dormir ansiosa e no dia seguinte viajamos para o Crato. Lá chegando papai nos hospedou (eu e minha irmã) no hotel de Dona Alaíde, achei o maior barato, tudo pra mim era novidade.

No horário marcado, fomos para o consultório médico e após a consulta fomos a ótica para confeccionar os óculos receitados. Naquele tempo senti-me envaidecida ao usar aquela peça. Achava o máximo, tudo pra mim era novidade.

Aos 15 anos concluí o primeiro grau, oitava série, nem sei como dizem  hoje. Fui novamente ao Crato, dessa vez para registrar no FOTO SARAIVA a minha conclusão da oitava série.

Aos 18 anos, minha irmã Isabel Bitu que até hoje é a minha fada madrinha me trouxe para conhecer Fortaleza, foi a primeira vez que eu vi o mar.

Foi em uma de festa de aniversário que um ortopedista milagroso  sugeriu que eu fizesse a cirurgia que me faria caminhar. Bela emoção! Foi o suficiente para eu passar um ano sem estudar entre  hospitais e clínicas de fisioterapia. Isso me rendeu a grande alegria de usar um aparelho ortopédico e caminhar tranquila sem cair.

Passei até os 20 anos lutando para não me apegar a ninguém, só depois percebi que não era exatamente assim, não adiantava eu fugir de uma pessoa que lutava  para  me fazer feliz.

Cursei a faculdade de Letras brilhantemente, me apaixonei pela língua francesa. Logo na colação de grau, fui contemplada pelo primeiro e único emprego que me rendeu a independência financeira tão almejada!

O trabalho para mim sempre foi uma terapia. Aos 45 anos decidi fazer um curso de verão em Paris, a tão sonhada viagem que tanto adiei mas queria ir antes dos 50 anos, algo me dizia que o momento era aquele.

Passei 3 dias em  "Lisboa, velha cidade" de onde tenho as melhores recordações.

Em Paris passei um mês sem falar português. Tanto na casa em que me hospedei como na escola ninguém falava a língua de Camões. Tive saudades nos primeiros dias mas foi um grande aprendizado e ao voltar pude passar toda essa experiência para meus alunos que me aguardavam ávidos por informações.

Trabalhei no Centro de Línguas - IMPARH durante 25 anos, dedicação exclusiva. Amava meu trabalho e não pensava em me aposentar, recebi homenagens as mais diversas. Diziam que eu era uma boa professora.

O tempo passou e precisei me aposentar para cuidar da minha irmã SOCORRO que contraíra ALZHEIMER. Virei cuidadora, patroa, dona de casa. Os 50 anos não foram comemorados como eu planejara. havia uma pessoa carente precisando de mim. Tenho certeza de que cumpri minha missão e sou feliz por isso. Agora me pergunto: quantas emoções ainda viverei até meus 70 anos?

Escrito por: Fafá Bitu

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