20 de março de 2011

A salva do meio-dia -



A SALVA DO MEIO DIA - Mundim do Vale

Tudo quanto é atração
Na festa de agosto tem
Artista que vai e vem
Para o Creva e o calçadão.
Tem até um barracão
Onde se faz cantoria,
Recital de poesia
E o toque de sanfona.
Mas o que me emociona
É A SALVA DO MEIO DIA.

Os músicos fazem fileira
Pela rua principal
Nessa hora o pessoal
Já vai subindo a ladeira.
Quando o pano da bandeira
Balança na ventania
Vai provocando alegria,
Na mocinha da varanda.
Que desce e acompanha a banda
PRA SALVA DO MEIO DIA.

Quando a banda tá tocando
Na salva do padroeiro
A calçada do cruzeiro
Fica cheia esborrotando.
Chico Carrim vai chegando
Aciona a bateria,
A multidão esvazia
Depois volta com cuidado.
Para escutar um dobrado
NA SALVA DO MEIO DIA.

O conterrâneo que mora
Numa cidade distante
É pensando todo instante
No mês, no dia e na hora.
Tem deles até que chora
Quando perde a companhia,
Que a mente fica vazia
E o coração com tristeza.
Porque perdeu a beleza
DA SALVA DO MEIO DIA.

Da capital vem também
Muita gente todo ano,
Vem Marlene Salviano
Que muita saudade tem.
Waldefrance às vezes vem
E Otacílio não perdia,
Tanto que fez moradia
Num estratégico lugar,
Para de casa escutar
A SALVA DO MEIO DIA.

Quando estou na bebedeira
No clube recreativo,
Fico todo o tempo ativo
Pensando na saideira.
Depois que tomo a terceira
O bar perde a freguesia,
Porque pago a minxaria,
Do tira-gosto e a cerveja.
E vou por trás da igreja
PRA SALVA DO MEIO DIA.

Na hora de começar
Parece até formigueiro,
Moça corre pro cruzeiro
E rapaz pro patamar.
O padre manda tocar
E a banda com maestria
Executa a melodia
Com jovens fazendo coro.
Dali começa um namoro
NA SALVA DO MEIO DIA.

Mas esse conto de fada
De repente dá pra traz,
No outro dia o rapaz
Nem olha pra namorada.
Ela fica revoltada
Com raiva da covardia
E beija por ironia
Outro moço na esquina
E o namoro termina
NA SALVA DO MEIO DIA.

Quando eu subia a escada
Da casa paroquial,
Fazia o pelo sinal
E já via a meninada.
Eles vinham na calçada
Na maior estripulia,
Correndo pra bateria
Para ver Chico Carrim
Acender o estopim
NA SALVA DO MEIO DIA.

Zé Sávio um dia falou
Pra sua mãe Maria Dalva,
Que queria olhar a salva
E ela logo concordou.
Mas o calção se rasgou
Na hora que ele subia
E a moça que viu dizia:
- Sávio tá quase despido,
Devia vir prevenido
PRA SALVA DO MEIO DIA.

Se a banda tava tocando
O hino de São Raimundo,
Se juntava todo mundo
Emocionado cantando.
O padre ficava olhando
Do banco da sacristia,
Já pensando na quantia
Que os devotos iam doar.
Pra depois ele pagar
A SALVA DO MEIO DIA.

Mas antes do Padre Mota
Era um pouco diferente,
Mestre Antônio era o regente
E o povo fazia a cota.
Mamãe que era devota
Às vezes contribuía,
Com o pouco que podia
Pra ver a banda tocar
Depois ia me levar
PRA SALVA DO MEIO DIA.

Eita bandinha descente
Que tem na minha cidade!
Na religiosidade
Ela está sempre presente.
Toca salva no sol quente,
Alvorada em manhã fria
E São Raimundo é quem guia.
Porque lá do seu altar,
Quer ver seu hino tocar
NA SALVA DO MEIO DIA.

Um roceiro vai passando
Pra comprar sal e café
Chega lá em João Bilé
E vai logo se sentando.
Passa um tempo conversando
Pede um copo de água fria,
Depois diz: - Vixe Maria!
Tá na hora de ir embora,
Todo dia eu perco a hora
NA SALVA DO MEIO DIA.

Um cachaceiro sem graça
Que da rua vem tombando,
Chega logo perguntando
Se por ali tem cachaça.
Senta no banco da praça
Falando de carestia,
Sem saber de economia,
Nem ter no bolso um tostão.
Depois se lasca no chão
NA SALVA DO MEIO DIA.

Tinha um cachorro deitado
Curtindo a sombra de um muro,
Mas ou bicho sem futuro
É um cachorro assustado.
Quando ouvia o pipocado
Das bombas da bateria,
Se esperneava e grunhia
Como querendo dizer:
- Não sei o que vim fazer
NA SALVA DO MEIO DIA.

Meu povo tem devoção
A São Raimundo Nonato
E o padre fica grato
Com as prendas do leilão.
No dia da procissão
Vem aquela romaria
Quando é no fim do dia
Assiste a missa na praça.
Mas pra mim, o que tem graça
É A SALVA DO MEIO DIA.

Eu só estou descrevendo
A salva do meu lugar,
Porque pude acompanhar
O mestre Antônio regendo.
Não estou aqui querendo
Fazer uma apologia,
Mas acho que a poesia
Tem que ter muita pureza,
Comparada com a grandeza
DA SALVA DO MEIO DIA.


Dedicado a conterrânea Artemísia.

6 comentários:

  1. Quanta honra! Fiquei sem palavras.
    Obrigada, pela grata surpresa.

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  2. Sempre que posso, eu carrego os poemas de Mundim do Vale prá cá: ele me autorizou. Pensa num amigo legal!!
    Fafá

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  3. Realmente, ele é um grande amigo...
    Se ele autorizou, abuse e use (não da Loja)dos versos dele.
    Beijos aos dois.

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  4. A Salva do meio dia é muito linda!

    Eu aqui em São escuto a Salva todos os anos, pela radio Cultura de Varzea Alegre, me emociono muito.

    Até na parte que o Padre ler as ofertas rsrsr eu gosto.

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  5. Oi, Mag, gostei de sua visita, volte sempre, acompanho a festa tb pela Rádio. Preciso tirar umas dúvidas de blog com vc, faremos isso por e-mail. Abraço,
    Fátima

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  6. Meninas, seremos três a acompanhar a "salva do meio dia" pela internet. Há trinta anos não vou à Festa de Agosto, apesar de todo ano ir a Várzea Alegre.
    Beijos.

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