6 de dezembro de 2013

FURTIVAS SERENATAS - por João Bitu



OCORRÊNCIAS E FATOS

FURTIVAS  SERENATAS

João Bitu                                           

Em minha mocidade arrisquei bastante a vida. Em Várzea Alegre por considerar tudo muito tranqüilo, sem maiores riscos de imprevistos como assaltos, armadilhas  e    fatalidades outras como ocorre atualmente em todas as partes em que habitamos e ainda, impulsionado pela fragilidade evidente na cabeça em se tratando de  juízo,  costumava eu  fazer noitadas as mais  loucas ao lado de companheiros igualmente pouco receosos.

Com o passar dos tempos fui amadurecendo, utilizando melhor a cabeça em seu devido lugar e adotando procedimentos mais dignos à vida numa cidade tão maravilhosa como Várzea Alegre, berço de gente bem, homens de valor e de alta expressão social, política e empresarial.

Busquei atentar mais para os estudos. Em 1951 fiz o curso de admissão ao Ginásio no Colégio Diocesano de Crato, uma prova relativamente difícil levando em conta o fato de haver estudado em mais de uma escola onde a maneira de aprender a ler e escrever as lições, diferia uma da outra,  na  medida em que mudavam os professores e de certo modo a forma  de ensinar, contudo, logrei pleno êxito e no ano seguinte iniciei o ciclo ginasial, confesso que até aí correu tudo bem, sempre obtive notas muito boas e não sofri quaisquer dificuldades de assimilação. O aproveitamento foi louvável a exemplo do curso primário nas escolas de menor porte.

Naquela época, entretanto, despertou em mim um ardente desejo de repassar aquelas músicas românticas que eram tocadas na Amplificadora “A VOZ DE VÃRZEA ALEGRE” sob a apresentação de Walquirio Correia aos corações apaixonados, em forma de serestas a cargo de uma equipe de seresteiros por mim formada. Tínhamos clarinete, violão, pandeiro e um cantor boêmio escolhido na cidade. Contando com a conivência de um de meus irmãos, fugia do casarão  quando todos já dormiam e realizávamos a serenata obedecendo um itinerário previamente estabelecido. Iniciávamos na Pracinha Nova ( hoje Praça dos Motoristas( ), em seguida parte da Getúlio  Vargas, tomávamos de volta  a Rua Major Joaquim Alves, Praça Santo Antonio, em fim para concluir,  ficávamos em frente a Igreja de São Raimundo, exatamente no Cruzeiro onde fazíamos uma pausa para que eu me recolhesse ao leito com o espaço de tempo necessário a que  me acomodasse seguramente, sempre com a ajuda do citado irmão que me aguardava de olhos bem abertos e atento a qualquer imprevisto. Só então tudo recomeçava tranquilamente com os demais participantes da aventura. A estas alturas, vez outra, uma terceira  pessoa de casa ao despertar com os lindos sons, indagava inocentemente ao meu ouvido: “João está ouvindo?”

Assim era, tudo aconteceu sempre na mais perfeita harmonia, até hoje não entendo  como tudo sucedeu sem o menor incidente. O segredo das arriscadas aventuras foi sempre mantido e guardado convenientemente.

Agradeço a DEUS e peço perdão por  tais  aventuras, que hoje chamo inomináveis loucuras,   cometidas impensadamente.

Aqueles companheiros de noitadas hoje estão em outro plano de vida, também eles foram contemplados com a sorte de não terem sido desmascarados.

Tudo passa!

João Bitu
 
IMPOSSÍVEL ESQUECER
EU SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA
 
 Carlos Galhardo
 
 
 
 

 

 

 

3 comentários:

  1. Eu era bem criança ainda mas lembro dos comentários. Não acho que fosse loucura, talvez para os valores da época, não sei. Que pena que hoje não exista mais o romantismo daquele tempo. Pelas músicas a gente sente que havia muito bom gosto. Viva o tempo das serenatas!

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    1. Realmente, não há mais aquele romantismo. Romantismo e respeito. O respeito era tanto que outro dia conversando com uma de minhas melhores amigas eu dizia: Só não namorei com você porque não sabia se você me queria! E ela perguntou: Porqie você não sabia? Porque não sabia se eu queria?
      Pelo medo de arrastar uma mala, isto é, receber um não! Pois bem, talverz nos amássemos mas ninguém nos disse e nós não nos dissemos jamais. Aí estão juntos respeito e receio! ....

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  2. É...por conta desse receio, perdia-se muita oportunidade. Por medo de arrastar uma mala, perdeu a oportunidade de namorar um poeta. Hoje em dia isso não acontece mais não há mais aquele fadado receio de levar um fora.

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