7 de agosto de 2014

AS CARNAÚBAS - João Bitu

AS CARNAÚBAS

Bem ao lado do Riacho do Machado
Que molha com suas águas correntes
As margens férteis desde sua nascente
E que se alongam até um final distanciado
Ali fica o Sítio Carnaúbas, meu berço amado
Onde Pompílio viu o meu nascimento
Iniciando o bem aventurado surgimento
De uma prole bem sucedida e amada
Que veio a ser chamada “a bituzada”
Por um poeta em inspirado momento.


 Zé Bitu foi seu líder bem sucedido
Um cidadão de rara prudência e saber
Através de quem tudo havia de ser
Ministrado, e com muito dispor exercido...
De certo modo era um homem introvertido
Não se prestando ao “disse me disse”
Que de qualquer esquina partisse
Limitando-se ao repente habitual
Que lhe era, por instinto, muito natural
Que na oportunidade por ventura lhe surgisse.


 Ao seu lado sempre se dedicando com fervor
Aos afazeres do lar de paz raríssima
Dona Vicentina a esposa e Mãe castíssima
A tudo assistia e compartilhava com muito amor...
Sua afeição e o seu zelo eram um primor
E consistiam em ensinar e dar educação
Aos diversos filhos ainda em formação
Reservando a eles um futuro de grandeza
Mostrando-lhes sempre o bem com firmeza
Ao doar com carinho frutos de seu coração


Com quantas saudades lembro a Tia Isa!
E Chiquinho, - ela cheia de amor e de fé
Os dois ocupavam um aconchegante chalé
Que recebia uma suave e saudável brisa
Cujo aroma ainda hoje me sensibiliza.                                                           
Pequenos detalhes estes são aos quais me agarro

Por mais que sejam alguns até bizarros,
Todo dia, mesmo tendo eu já jantado                                                                                         
Corria lá a degustar um saboroso pegado         
Que ela deixava ao fundo duma panela de barro


Antonio Alves Bitu meu tio e padrinho
Por diversos conhecido como Seu Antõe
Ficou mesmo com o cognome “Nonõe”
A cuja alcunha atendia com todo carinho
Jamais ficava separado dum cigarrinho                                                                                    
Posto na boca ou atrás de sua orelha  
Formando constante e imutável parelha.                                                                                   
De tanto fumar triste e penosa sina
Veio a contrair enfermidade maligna
Que ao tédio e ao raquitismo se assemelha.


Afonso Bitu era agricultor e barbeiro
Amargava uma existência muito sacrificada
Herdou uma propriedade bem isolada
Num local conhecido por Romeiro
Ficava por lá trabalhando o dia inteiro
Sem fazer em casa nem um desjejum
Lá ficava dando duro sem alimento nenhum
Somente à tarde quando para casa voltava
Era então que precariamente preparava
Para si uma alimentação bem comum.


Num casebre de taipa em penúria absoluta
Habitava meu mestre Pompílio José Duó
Cidadão muito humilde e pobre que nem Jó
Que criava uma enorme família em árdua luta
Era, mesmo assim, um homem de ilibada conduta
Que em decência e bondade submerso
Subsistia a tudo em seu cruel viver adverso
Jamais deixava transparecer seu sofrimento e dor.
Com determinação, firmeza e pretenso penhor
Foi ele quem me ensinou a fazer versos


 As Carnaúbas foram uma escola em minha vida
O berço duma doce e feliz existência
Cenário da mais pura e saudável convivência
Fase que em tempo algum será esquecida...
Oh que saudade daquela infância querida
Das coisas naturais e belas que lá ficaram
Pátria em que o amor e a minha paixão habitaram
Suscitando hoje esta singela e fiel história
Daquele sítio de imensa e saudosa memória
Minhas Carnaúbas onde tais fatos se registraram


 João Bitu

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