20 de outubro de 2014

DAS CARNAÚBAS À CIDADE - JOÃO BITU






DAS CARNAÚBAS À CIDADE
Quero hoje andar montado
 Através do pensamento
 Esquecer por um momento
 Este viver agitado
 Cavalgando no passado!!
 Meu bom Pai por empreitada
 Confiava-me a jornada
 De ir à RUA em cangalha
 Se a memória não me falha
 Sempre na burra Dourada!

Eu usava este animal
 Quase que todo dia
 Pra buscar mercadoria
 Na bodega de Lourival
 Aquilo mais trivial
 De grande necessidade.
 O de maior raridade
 Se ali viesse a faltar
 Então eu ia comprar
 Noutros pontos da cidade.

Eu saia às sete horas
 Pela manhã bem cedinho
 Cavalgando com carinho
 Não usava nem esporas! ...
 Se não houvesse demoras
 Nada surgisse em contrário
 Ao curso do itinerário,
 Após cumprir a missão
 Sem causar preocupação
 Voltava sempre no horário

Montava junto à calçada
 Acionava a condução
 Pelo lado do casarão
 Iniciava a jornada
 Que me fora confiada.
 Minha vontade primeira
 Era de qualquer maneira
 Parar um pouco que fosse
 Na casinha de João Posse
 Depois chegar a Ribeira!

Eu nem sentia calor
 Alegre e sempre cantando
 Minha montada trotando
 Até Manoel Salvador,
 Eu dava o maior valor!
 Ninguém mais feliz que eu
 Nada mau me aconteceu
 Era uma maravilha
 Depois chegava à Forquilha
 Onde minha Mãe nasceu!

Um pouquinho antes só
 Tinha Maria Vitorino
 Que cozia um divino
 E gostoso Pão de Ló,
 Cujo, segundo Vovó,
 A gente come que abusa
 Por mais que ela produza
 Não logra dar vencimento
 Tudo se vai em um momento
 Pondo o freguês ao relento
 E muita gente confusa!

Atravessava o Machado
 Uma ponta do Riacho
 Ali já perto eu acho
 Se não estou enganado
 Era meio caminho andado.
 Minha burra era um tesouro
 E sempre dava no couro
 Em tempo algum falhava,
 Logo, logo se alcançava
 A várzea do Bebedouro.

São Cosme ficava adiante
 Logo após Bebedouro
 “Dos “COSTA” um logradouro”
 Seu principal habitante
 Uma família importante!
 Para falar a verdade
 Com toda sinceridade
 Eu já me sentia assim
 Depois de Fábio Pimpim
 Em clima já da cidade.

Quando a tarde começava
 Eu já estava voltando
 Bem devagar cavalgando
 Como sempre eu gostava
 E o bom senso mandava.
 O sol quente feito brasa
 Mas isto não me atrasa
 Fazia mesmo questão
 De não causar inquietação
 Chegando na hora em casa

Com a carcaça cansada
 Porém muito satisfeito
 Comprara tudo direito
 Não tinha esquecido nada,
 Também a burra Dourada
 Apesar do corpo doído
 Eu estava convencido
 Pela sua expressão
 Que mostrava a sensação
 Também - do dever cumprido.

João Bitu

2 comentários:

  1. Recordar é viver. Recordo com saudade e muito gostaria que a "burra" DOURADA pudesse sentir a minha homenagem sincera .
    João Bitu

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  2. Da janela lateral do quarto de dormi, vejo Várzea ,vejo a Igreja e vejo muito mais,vejo o povo construindo a Igreja eram dois grupos o da Igreja pra cima e o da Igreja pra baixo,vejo o povo carregando pedras na cabeça era uma disputa danada só pra ver que carregava mais pedras, e hoje continua essa disputa é os de lá contra os de cá...

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