30 de abril de 2012

EU E AS MUITAS SAUDADES - João Bitu

EU E AS MUITAS SAUDADES


Eu nasci lá nas Lagoas
Do Coronel Zé Vitorino
Na localidade Carnaúbas
Meu paraíso de menino.
Nossa casa ficava ao lado
Do Riacho do Machado
Em clima ameno e junino!

Na frente do casarão
Tinha uma árvore que só
De lembrá-la a emoção
Na garganta dá-me um nó
Meu peito ainda se agita
Com aquela coisa bonita
O frondoso “Pau Mocó”

Bem próximo do quintal
Tinha um pé de sabonete
Que sombreava o curral.
Para o gado em deleite
Onde se via cabisbaixa
Nossa vaca “Ponta Baixa”
Da família – A Mãe de Leite

O Luar das Carnaúbas
É mais belo que o da cidade
Nenhum prédio lhe ofusca
A saudável claridade.
O luar do meu Sertão
Embevece o coração
E me encanta de verdade!                                                       

Quando chegava o verão
A cultura das sementes
E o transporte do algodão,
Bem no terreiro da frente
Os burros comiam feno:
Veneza, Mimoso e Moreno,
Melão, Dourada e Corrente!

Dessa tropa de animais
Posso esquecer, mas, não quero
De vê-la posta em currais
Sob os cuidados austeros
Porém corretos e ordeiros
Daqueles bravos tropeiros
JOSIAS E ZÉ SEVERO.

A minha humilde infância
Modesta sim, mas querida,
Num clima de tolerância
Sem luxúria foi vivida.
O sertão foi meu berçário
Onde cursei o primário
Com Zely e Margarida!

Não posso esquecer o Lope
E da manga do Jaburu
Quando tirava a galope
Da cacimba ao Coaçu                                 
E da escola – o meu grupinho
Carlos, Lauro de Agostinho,
E Francisca de Pupu

As quermesses de Juazeirinho
Uma tradição muito rica
Tinha milho bem verdinho
Muita pamonha e canjica
Na minha infância modesta                                                    
Nunca perdi uma festa
Do Velho Miguel Marica

Saudades bem verdadeiras
Daqueles pés de Juá
Que ficavam na ribeira
Nas terras do Jatobá.
Sinto um desejo medonho
De rever IRENE E ANTONIO
SEU MOISÉS, ROSA e o Tiá!                                      

NENEM DE ZÉ DE ISMAEL
Minha estimada comadre
BAÍA, CHICO E JOEL,
Muito mais do que compadres
Amigos até a morte.
E lá no sítio BOA SORTE
Dona Maria e Zé do Padre!

POMPÍLIO JOSÉ DUÓ
Criado com Zé Vitorino
Era pobre que nem Jó,
Mas decente e muito fino
UM AMIGO DE PRIMEIRA.
E a velha lavadeira
Madalena de Pinino

Oh que saudades eu tenho
Da gente lá do meu Centro
De minhas idas ao engenho
Lá da Lagoa de Dentro
Dos jiraus que Papai montava
E que Mamãe aguava
“De cebolinha e coentro”!

Lembro a moita das galinhas
As touceiras de jitirana                                              
As grandes safras de pinha
E dos pés de canjarana.
Lembro também no terreiro
De um enorme mamoeiro
De frutos tais mel de cana!

Das matas de marmeleiro
Jurema, sarça e Oiti,
MOFUMBO BRANCO E PEREIRO
Mandacaru e Tingui
Malícia e Arapiraca,
Juazeiro e alfavaca
Nada disto há por aqui!

Hoje moro na cidade
Com minha alma dividida
Preso à doce mocidade
Sem poder trocar de vida
Por mais que ame o Sertão
É aqui que ganho o pão
-Apesar da vida sofrida!...

João Bitu

4 comentários:

  1. João, esse espaço é todo seu, reprise seus poemas quantas vezes quiser. Não pense que está ocupando espaço, ao contrário, você traz poesia e nos encanta. Continue assim, fico muito feliz.
    Fafá

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  2. Essa poesia é uma riqueza de cultura e valores guardados no coração de quem ama as Carnaubas ,amei a poesia li para minha mãe q chegou a chorar de emoção parabens seu João e obrigada por essa arte Cecília Bitu .

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    Respostas
    1. Cecília boa tarde. Muito obrigado por você ter comentado o meu poema. Gostaria que você estivesse sempre em contacto conosco. Queremos ampliar o leque cultural através de nossas poesias.
      Um abraço,
      João Bitu

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  3. Cecília, posso imaginar a emoção de sua mãe quando leu esse " post". Fico feliz por ver João Bitu divulgando sua veia poética e mexendo com nosso coração. Que venha mais e mais, o sou de varzea alegre se orgulha dos poetas familiares. Parabéns,
    Fafá

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