31 de maio de 2011

Parabéns, Mundim!

UMA CASA NO SERTÃO - Por Mundim do Vale.

Nesse verso popular
Eu vou rimar as verdades,
Das coisas de utilidades
Que tem lá no meu lugar.
Se o leitor precisar
De arapuca, alçapão,
Canário e currupião
Eu dou a dica segura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem embrulho de farinha
Para botar na coalhada
E uma panela virada
Na entrada da cozinha.
Quando é de manhazinha
A mulher traz um caixão
Cheio do coco babão
Pra comer com rapadura.
TUDO QUE A GENTE PROCURATEM
NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem casa de caboré
No reboco da parede
Quando um cai numa rede
Faz o maior rapapé.
O povo pensa que é
Um feitiço ou maldição
E roga a Frei Damião
Pra tirar a criatura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um retrato desbotado
De um candidato a prefeito,
Um moinho com defeito
E um cachimbo apagado.
Uma carta de um cunhado
Chegada do Maranhão,
Esperando um cidadão
Pra decifrar a leitura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um pote na cantareira,
Cambito no armador,
Chocalho no corredor,
Retrato na cristaleira.
Uma velha roçadeira
Comida da corrosão,
Fivela de cinturão
Com dois dedos de largura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Uma tifanga amarela
Numa porta estendida,
Toda suja e encardida
Que o caçula mijou nela.
Uma velha na janela
Fazendo uma oração
E uma moça no oitão
Procurando uma aventura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Gata parida na cama
Com os filhotes mamando,
O menor fica miando
Porque não alcança a mama.
Os maiores fazem trama
Pra desnutrir o irmão
E depois da confusão
Toma leite com fartura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Fumo de rolo, rapé,
Bico de pua, sovela,
Prato, colher e tigela,
Foice,facão e quicé,
Caco de torrar café,
Cabresto, mão de pilão,
Gato embaixo do fogão
Aproveitando a quentura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem na sala de jantar
Uma mesa de umburana,
Que uma vez por semana
O avô vem almoçar.
Tem máquina de costurar
Sendo daquelas de mão.
Mas quando tem precisão
Faz uma boa costura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Onde era o armazém
Tem guarda-chuva encostado
Que a tempo não é usado
Porque a chuva não vem.
Desprezado tem também
Os dois tubos de feijão,
A madeira do portão,
Dobradiça e fechadura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Num buraco mora um rato
Com direito adquirido,
mas vem sendo perseguido
Pelo danado do gato.
O rato acha muito chato
Viver na perseguição
Mas o gato faz questão
De manter sua postura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um velho pai de chiqueiro
Ainda dando o recado
E um carneiro cevado
Cochilando no terreiro.
Uma frango no poleiro
Olhando sem direção,
Sem saber por qual razão
Tem que dormir na altura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Rimei a variedade
Das coisas que o sertão usa,
Sei que ninguém me acusa
De faltar com a verdade.
Se o leitor é da cidade
Pode até não ter noção,
Mas o sertanejo irmão
Sabe que é verdade pura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Mundim do Vale.

Pessoas que quero bem

28 de maio de 2011

Caminho

Por que temer os espinhos
E as dores
Se nos leva o caminho
Às inevitáveis flores

MOMENTO DA POESIA - Por Claude Bloc

Memórias
Claude Bloc



Me abrigo no silêncio
de tua ausência
e apenas sinto o frio
do teu não estar
Não sei de que falam
as palavras ditas/não ditas
Apenas deito-me
no silêncio que deixas
Esse silêncio
em que me sento
em que perco
em que me arrumo.

Só depois sossego
e me ponho a [des]arrumar essas lembranças
e [des]ordeno os sons dessa saudade
e me [des]faço nas minhas memórias
de/por ti.

Claude Bloc

27 de maio de 2011

Auto-retrato


Foi em Várzea Alegre que tudo começou.Meus pais nasceram lá, se conheceram, casaram, tiveram 12 filhos. Em 1954 nasceu a sementinha perturbadora chamada Maria de Fátima Bitu. Até os 2 anos eu tinha as pernas da minha mãe e caminhava normal mas exatamente no mês de maio veio a poliomielite que quase tirou a alegria de viver de meus pais. Tentei ser forte e fui à luta, não deixei que ninguém atrapalhasse meu sonhos. Estudei com Dona Elisa Gomes Correia que me deu grandes lições de coragem para vencer certos desafios. Ela era paralítica mas tinha um força interior muito grande e me ensinou a não vacilar diante das dificuldades. Ao lado da minha casa, tinha também a professora Iracy Bezerra de Morais que também me passou grandes lições de sabedoria e bondade. No Ginásio São Raimundo Nonato tive o primeiro contato com a língua francesa através da professora Aniete Ferreira Rolim. Como se não bastasse essas três professoras maravilhosas, ainda visitava muito a biblioteca da prefeitura, onde tive oportunidade de boas leituras.(Nesse tempo as pessoas tinham tempo para ler). Nessa época não havia televisão nem internet. Acho que o maior embasamento cultural deve-se a tudo isso. Por que então não valorizar a terra onde comecei a minha vida estudantil?
Aos 18 anos uma fada madrinha chamada Isabel Bitu, minha irmã me trouxe a Fortaleza para conhecer o mar. Acho que havia outra intenção além do mar. Foi muito emocionante.... numa festa de aniversário um médico ortopedista me encorajou a fazer uma cirurgia na perna que me fez passar um ano sem estudar. Troquei a sala de áula e os livros pelas clínicas ortopédicas e clínicas de fisioterapia. Voltei para Várzea Alegre levando um troféu para meus pais: o aparelho ortopédico que me deu condições de caminhar melhor sem tantas quedas.Depois vim á Fortaleza para continuar meus estudos. Fiz Letras/ Francês na UFC. Quando colei grau já havia uma proposta de emprego no Centro de Línguas - IMPARH onde estudei e trabalhei durante 25 anos como professora de Francês. Nunca tive grandes luxos, não gosto mesmo. Passei a vida inteira me preparando para fazer a tão sonhada viagem à França que aconteceu em 1999. A coragem e a vitória de fazer um curso de verão em Paris de onde guardo as melhores recordações, tendo a oportunidade de conviver com estudantes russos, italianos, gregos, espanhóis, poloneses e japoneses falando o idioma mais bonito do mundo: o francês. Andar sozinha pelas ruas de Paris e Lisboa sem medo do trânsito e da violência e me achando a pessoa mais saudável desse mundo. Só tenho motivos para ser feliz: a família, os alunos que foram meu instrumento de trabalho que exercia como se fosse um lazer. Ainda hoje recebo homenagens as mais diversas. Justamente no dia 13 de maio de 2011 recebo o comunicado de minha aposentadoria.As pessoas cismam com esse nome mas eu não estou parada, faço tradução.Tenho que agradecer a Deus por estar saudável e poder tomar conta da minha casa que amo e receber meu bom círculo de amizades: aquelas pessoas que são comprometidas com meu objetivo de vida aos 57 anos: SER FELIZ E FAZER OS OUTROS FELIZES.

Fátima Bitu


26 de maio de 2011

Pranto

Quero dizer em palavras modestas

Na placidez solene do meu canto

Que do meu íntimo aflora um pranto

Quando alguém destrói uma floresta

Não por insulto, mas por quem contesta

Vou protestar contra essa maldade

Pois quem comete tal insanidade

É tão pequeno em Inteligência

Tão limitado em sua consciência

Que não é digno de ter liberdade

Paulo Viana

24 de maio de 2011

Vida

O que me cabe neste mundo

Nesta aventura agridoce?

Por que o acaso me trouxe

Qual o sentido profundo?

Já pesquisei bem a fundo

Tais perguntas proferidas

Querendo entender a vida

Mas a resposta não veio

Permaneço sem esteio

Sem a resposta devida

Talvez nem deva existir

Ou, quem sabe, é somente

Viver tudo intensamente

Amar, chorar e sorrir

Paulo Viana

UMA CASA NO SERTÃO - Por Mundim do Vale.

Nesse verso popular
Eu vou rimar as verdades,
Das coisas de utilidades
Que tem lá no meu lugar.
Se o leitor precisar
De arapuca, alçapão,
Canário e currupião
Eu dou a dica segura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem embrulho de farinha
Para botar na coalhada
E uma panela virada
Na entrada da cozinha.
Quando é de manhazinha
A mulher traz um caixão
Cheio do coco babão
Pra comer com rapadura.
TUDO QUE A GENTE PROCURATEM
NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem casa de caboré
No reboco da parede
Quando um cai numa rede
Faz o maior rapapé.
O povo pensa que é
Um feitiço ou maldição
E roga a Frei Damião
Pra tirar a criatura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um retrato desbotado
De um candidato a prefeito,
Um moinho com defeito
E um cachimbo apagado.
Uma carta de um cunhado
Chegada do Maranhão,
Esperando um cidadão
Pra decifrar a leitura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um pote na cantareira,
Cambito no armador,
Chocalho no corredor,
Retrato na cristaleira.
Uma velha roçadeira
Comida da corrosão,
Fivela de cinturão
Com dois dedos de largura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Uma tifanga amarela
Numa porta estendida,
Toda suja e encardida
Que o caçula mijou nela.
Uma velha na janela
Fazendo uma oração
E uma moça no oitão
Procurando uma aventura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Gata parida na cama
Com os filhotes mamando,
O menor fica miando
Porque não alcança a mama.
Os maiores fazem trama
Pra desnutrir o irmão
E depois da confusão
Toma leite com fartura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Fumo de rolo, rapé,
Bico de pua, sovela,
Prato, colher e tigela,
Foice,facão e quicé,
Caco de torrar café,
Cabresto, mão de pilão,
Gato embaixo do fogão
Aproveitando a quentura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Tem na sala de jantar
Uma mesa de umburana,
Que uma vez por semana
O avô vem almoçar.
Tem máquina de costurar
Sendo daquelas de mão.
Mas quando tem precisão
Faz uma boa costura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Onde era o armazém
Tem guarda-chuva encostado
Que a tempo não é usado
Porque a chuva não vem.
Desprezado tem também
Os dois tubos de feijão,
A madeira do portão,
Dobradiça e fechadura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Num buraco mora um rato
Com direito adquirido,
mas vem sendo perseguido
Pelo danado do gato.
O rato acha muito chato
Viver na perseguição
Mas o gato faz questão
De manter sua postura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Um velho pai de chiqueiro
Ainda dando o recado
E um carneiro cevado
Cochilando no terreiro.
Uma frango no poleiro
Olhando sem direção,
Sem saber por qual razão
Tem que dormir na altura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Rimei a variedade
Das coisas que o sertão usa,
Sei que ninguém me acusa
De faltar com a verdade.
Se o leitor é da cidade
Pode até não ter noção,
Mas o sertanejo irmão
Sabe que é verdade pura.
TUDO QUE A GENTE PROCURA
TEM NAS CASAS DO SERTÃO.

Mundim do Vale.

Dedicado ao poeta João Bitu e a Zezê.

23 de maio de 2011

Sobre o Alzheimer

Sobre o Alzheimer, vale a pena ler mesmo que você não tenha este problema na família.
Roberto Goldkorn é psicólogo e escritor
Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delíriosparanóicos comuns nas demências tipo Alzheimer. Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que....', frase que me dá arrepios. E o que fazer... para evitarmos essasdrogas Como?
Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida 'bandida'.Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo, nunca,pois dali só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos. Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos.. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos. Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso. Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum... Preocupante). Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade .Parodiando Maiakovski, quedisse 'melhor morrer de vodca do que de tédio', eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.
Dicas para escapar do Alzheimer:
Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.
Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a 'aeróbica dos neurônios', é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de
atividades dos neurônios em seu cérebro. Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.
Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios 'cerebrais' que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o
cérebro a um trabalho adicional. Tente fazer um teste:
- use o relógio de pulso no braço contrário;
- escove os dentes com a mão contráriada de costume;
- ande pela casa de trás para frente;
(vi na China o pessoal treinando isso num parque);
- vista-se de olhos fechados;
- estimule o paladar, coma coisas diferentes;
- veja fotos de cabeça para baixo;
- veja as horas num espelho;
- faça um novo caminho para ir ao traba A proposta é mudar o comportamento rotineiro! Tente, faça alguma coisa diferente com
seu outro lado e estimule o seu cérebro. Vale a pena tenta. Que tal começar a praticar agora,trocando o mouse de lado Que tal começar agora enviando estamensagem, usando o mouse com a mão esquerda?
FAÇA ESTE TESTE E PASSE ADIANTE PARA SEUS (SUAS) AMIGOS (AS).
'Critique menos, trabalhe mais. E, não se esqueça nunca de agradecer!'
Sucesso para você.A cada 1 minuto de tristeza perdemos a
oportunidade de sermos felizes por 60 seguns. Obs.: Esta mensagem foi enviada por mim, com a mão esquerda.
****************************************************************************
Minha irmã Socorro lutou contra o Alzheimer durante 8 anos. Sempre que vejo um texto desse tipo, me dá uma vontade enorme de esclarecer as pessoas sobre o assunto. Minha irmã morreu há quase 3 anos  mas eu continuo trabalhando como voluntária, ajudando no que posso porque sei como tudo é difícil. Quem passa por essa experiência nunca deixa de ajudar, de ser solidário. Estou à disposição de quem estiver numa situação parecida com a quem passei. Abraço,
Fátima Bitu

Não tenho idade: tenho vida

A Velhice

Alguns de nós envelhecemos, de fato, porque não amadurecemos.
Envelhecemos quando nos fechamos às novas ideias e nos tornamos radicais.
Envelhecemos quando o novo nos assusta.
Envelhecemos também quando pensamos demasiado em nós próprios e nos
esquecemos dos outros.
Envelhecemos se paramos de lutar.
Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o Mestre é o Tempo.
A vida só pode ser compreendida olhando para trás. Mas só pode mesmo ser vivida
 olhando para a frente.
Na juventude aprendemos; com a idade compreendemos…
Os homens são como os vinhos: a idade estraga os maus, mas melhora os bons.
Envelhecer não é preocupante: ser olhado como velho é que o é.
Envelhecer é mesmo uma Graça de Deus!
Nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz.
Sendo assim, não existe idade, somos nós que a criamos. Se não acreditares na idade,
não envelhecerás até ao dia da tua morte.
Pessoalmente, eu não tenho idade: tenho vida!
Não deixes que a tristeza do passado e o medo do futuro te estraguem a alegria do presente.
A vida não é curta; as pessoas é que ficam mortas tempo demais…
Faz da passagem do tempo uma conquista e não uma perda."
(Recebido por e-mail, desconheço o autor)

21 de maio de 2011

Segredo

Um segundo, apenas,

Só para contemplar esse segredo

Vislumbrar os códigos secretos

Surfar na luz plena de todas as verdades

Mesmo que se revelassem somente delírios

Sem que a profundidade se confirmasse

Ou fosse o que se afirma na superfície

Suavemente, como um jardim de plumas

Tão evidente como a paisagem

Tornando vã toda a ansiedade de passeio pela transcendência

A inatingível dimensão onde habitam a bondade e a perfeição

Onde está a resposta da primeira luz

E antes? Ah, essa inquietação sem freio, vã ansiedade oportunista

Delirar sobre o tempo, sobre o vento, as estrelas, o ontem

Querer confrontar-se com o impalpável

Declinar do confortável véu da ilusão

Ah, esse desejo infindo de saber, de por as mãos na essência do impossível

Cavalgar sob o dorso invisível da inerência

Um segundo seria o bastante

Pois, se é que existe esse segredo, uma vez visto,

Naquele instantâneo e mágico segundo,

O tempo estaria congelado eternamente

Porque a verdade se perenizaria na gnose

E veríamos, por fim, a extremidade

Que nos puxa para a recomposição do silêncio

Mas que ainda tateia na efervescência barulhenta do caos

Paulo Viana

20 de maio de 2011

COISAS QUE A GENTE NÃO ESQUECE - Por Vicente Almeida

A Julia é a minha neta mais nova, tem cinco anos e é muito apegada a mim.

Ela não gosta de afagos excessivos e é muito determinada.

Um dia dessses ela teve um serio atrito com a mãe, chegando a receber um corretivo.

Chorando e soluçando ela dizia:

- Bem que eu queria ter nascido era da barriga do meu avô e morar lá na casa dele!

A mãe, ainda irritada, exclamou:

- então vá pra lá!

Ela não contou conversa, juntou tudo que tinha de pelúcia como se essa fosse a sua bagagem, pôs em uma sacola e veio para nossa casa que fica a uns cinquenta metros da dela.

***********************************
Neto é normalmente assim: Ousado, Atrevido e Confiante se o avô tiver por perto, é claro. Agora nascer da minha barriga, é fogo.

Vicente Almeida
20/05/2011

Passe le temps

Vivre au présent
Penser au passé
comprendre le temps
Prendre un instant
Observer les cieux le firmament
Et qui sait peut-être;
un jour l'univers
tu verras de ta tour
et tu comprendras enfin
Qu'en toi existe un monde sans fin...
Passe le temps passe tes jours
Pense l'amour pense toujours
Ne t'endors pas c'est à ton tour
De passer la nuit de passer le temps...
Ouvre ton cœur
Connais ton monde tout l'univers
Tes mains ouvertes
Toutes tes chagrins
ne seront brisées
Et qui sait peut-être; ce jour
La lumière brillera sur tes jours
Et tu comprendras enfin
Qu'en toi est l'espoir d'une vie sans fin...
Passe le temps passe tes jours
Pense l'amour pense toujours
Ne t'endors pas c'est à ton tour
De passer la nuit de passer le temps
Georges Moustaki

Fé - por Sávio Pinheiro


Dedico ao amigo Vicente Almeida

Se o meu pensar está no Islamismo,
Do Alcorão retiro o meu fermento,
Mas se for Buda o dono desse intento,
Eu faço a fé na crença do Budismo.

Eu que não creio, abraço o Ateísmo,
O que me faz um homem além do tempo,
Porém se leio o Novo Testamento,
Reforço a graça no Cristianismo.

Louvando e crendo apenas na palavra
E no evangelho que o Senhor me lavra
Eu sou um Crente e tenho a fé madura.

Porém, se eu vejo o papa um ser supremo
E Jesus Cristo o grande Deus que eu temo
Eu sou um Católico de linhagem pura.


Sávio Pinheiro

19 de maio de 2011

Naturalmente
- Claude Bloc -

Abacaxi ornamental - Urca

 Naturalmente
Os dias passam
Se espicham ao sol
Se banham na chuva
Superam as noites
Vibram à luz que lhes resta.

Abacaxi ornamental - miolo

 Naturalmente 
As coisas se fazem:
A natureza exala
As poções da vida
E se supera quando a noite
Exala saudade.

Abacaxi ornamental - miolo


Naturalmente
Os dias passam
Mesmo quando andamos pelas estradas
Mesmo quando não saímos de nosso casulo
Mesmo quando andamos de mãos dadas
Mesmo quando restamos infinitamente
Debruçados nas janelas da esperança...

Abacaxi ornamental - visto de cima
Claude Bloc
Clique na foto para vê-la em tamanho maior

Eu e as muitas saudades - João Bitu

EU E AS MUITAS SAUDADES
Eu nasci lá nas Lagoas 
Do velho  ZÉ VITORINO
Estimado pelas pessoas
Desde os tempos de menino.
Nossa casa era ao lado  
Do RIACHO DO MACHADO
Em clima  ameno e junino!
Na frente do casarão 
Tinha uma árvore que só 
De lembrá-la a emoção  
Na garganta  dá-me um nó
Meu peito ainda se agita
Com aquela coisa bonita
O frondoso PAU MOCÓ
Bem junto do quintal
Tinha  um  pé de sabonete
Que sombreava o curral.
Para o gado em deleite
Onde se via cabisbaixa
Nossa  vaca PONTA BAIXA
Da família  - a mãe de leite
O luar das Carnaúbas
É mais belo que o da cidade
Nenhum prédio lhe derruba
A saudável   claridade.
O luar do meu Sertão
Embevece o coração
E o acalenta de verdade!
Quando chegava o verão
A cultura das sementes
E o transporte do algodão,
Tem no terreiro da frente
Os burros comiam feno:
VENEZA, MIMOSO E MORENO,
MELÃO, DOURADA E CORRENTE!
Dessa tropa de animais
Posso esquecer mas não quero  
De vela posta em currais
Sob os cuidados austeros
Porém corretos e ordeiros
Daqueles bravos tropeiros
JOSIAS E ZÉ SEVERO!
A minha humilde infância
Modesta sim, mas querida,
Num clima de tolerância
Sem luxúria foi vivida.
O sertão foi meu berçário
Onde cursei o primário
Com Zeli e Margarida!
Não posso esquecer do Lope
E da manga do Jaburu
Quando tirava a galope
Da cacimba ao COUAÇU
E da escola – o meu grupinho
Carlos, Lauro de Agostinho,
E Francisca de Pupu!
As quermesses do Juazeirinho
Uma tradição mui rica
Tinha milho bem verdinho
Muita pamonha e canjica
Na minha infância modesta
Nunca perdi uma festa
Do Velho Miguel Marica
Saudades bem verdadeiras
Daqueles pés de JUÁ
Que ficavam na ribeira
Das terras do JATOBÁ
Sinto um desejo medonho
De rever IRENE E ANTÔNIO
SEU MOISÉS, ROSA e o tIar!
NENEM DE ZÉ DE ISMAEL
Minha estimada comadre
BAIA, CHICO E JOEL,
Muito  mais do que compadres 
Amigos até à morte
E lá no sítio Boa Sorte
Dona Maria e Zé do padre
POMPILHO JOSÉ DUÓ
Criado com Zé Vitorino
Era pobre que nem Jó
Mas decente e muito fino
Um amigo de primeira
E a velha  lavadeira
Madalena de Pinino!
Oh! Que saudades que eu tenho
Da gente lá do meu CENTRO
Das minhas idas ao engenho
Lá da Lagoa de Dentro
Dos giraus que o pai montava
E que Mamãe aguava
“de cebolinha e coentro”!
Lembro a moita das galinhas
As touceiras de jitirana
As grandes safras de pinha
E dos pés de cajarana.
Lembro também no terreiro
De um enorme mamoeiro
De frutos tais mel de cana!
Das matas de marmeleiro
Jurema, sarça e Oiti,
Mofumbo branco e pereiro
Mandacaru eTingui
Malícia e Arapiraca,
Juazeiro e alfavaca
Nada disto há por aqui!
Hoje moro na cidade
Com minh`lma dividida
Preso à doce mocidade
Sem poder trocar de vida
Por mais que ame o Sertão
É aqui que ganho o pão
_ Apesar da vida sofrida!
Fortaleza, 22 de outubro de 1992
(Atendendo a um pedido especial, repriso esse poema do meu irmão João Bitu)

18 de maio de 2011

Com carinho para Zezê

ZZ! ZZ! ZZ!
Este é para você!

Zezê, eu sinto saudade
Do tempo de estudante
Daquele tempo marcante,
Que nos deu felicidade.
A sua cumplicidade
Sempre me deu energia.
Por isso, com nostalgia,
Rezo uma forte oração
E com o terço na mão
Peço à Deus muita alegria.

Zé Sávio

PARABÉNS  ZEZÊ  BITU.

Eu peço licença ao Blog
Para ocupar seu espaço,
Postando uma homenagem
Coisa que eu sempre faço,
Hoje é pra Zezé Bitu
Que eu mando verso e abraço.

Se não conseguir rimar
Eu recorro a emoção,
Se o poema não fluir
Eu forço a inspiração.
Porque Zezé é a chave
Que abre meu coração.

Parabéns Zezé Bitu
Em qualquer lugar que esteja,
Que Deus mande no seu dia
Tudo que você deseja.
Que São Raimundo Nonato
Muitos anos, lhe proteja.

Zezé eu juro a você
Que seu amigo não mente,
Assim como seus irmãos
Eu também estou contente.
Receba esse meu poema
Como se fosse um presente.

Quando eu pensei no seu nome
O teclado agiu sozinho,
Cada frase saiu
Foi de amor e carinho.
Eu apenas digitei
O meu nome, Raimundinho.

Reprisado por Mundim do Vale


É...

Vige Deus Ave Maria
Zezé é a moça do dia
Todo mundo a cortejar
Tambem eu quero rimar
No verso fazendo prosa.

E eu contente demais
Por que ela é uma das tais
Que todo mundo encanta
A Zeze nunca se espanta
Mas Zezé fica dengosa.

Abração Zezé

Vicente Almeida

17 de maio de 2011

O MEDO E A DOR - Por Vicente Almeida

O MEDO E A DOR

Do medo não tenho medo
Pois o medo dá azar
Temo o que faz o medo,
Um medo de me pelar;

A morte, o que é a morte?
Uma transição entre dois mundos
De tal forma que todos temos a sorte
De trocar um pelo outro em segundos;

A dor, Essa intimida qualquer sujeito;
Faz vibrar mais forte o coração no peito
Tens razão nobre poeta, é dor insana;

Nos faz tremer nas previsões mais tétricas
Nos conduz a pensamentos até proféticos
Invadindo-nos, comete sacrilégio e nos profana.

Vicente Almeida
17/05/2011

16 de maio de 2011

Relato de uma vida



Foi em Várzea Alegre que tudo começou.Meus pais nasceram lá, se conheceram, casaram, tiveram 12 filhos. Em 1954 nasceu a sementinha perturbadora chamada Maria de Fátima Bitu. Até os 2 anos eu  tinha as pernas da minha mãe e caminhava normal mas exatamente no mês de maio veio a poliomielite  que quase tirou a alegria de viver de meus pais. Tentei ser forte e fui à luta, não deixei que ninguém atrapalhasse meu sonhos. Estudei com Dona Elisa Gomes Correia que me deu grandes lições de coragem para vencer certos desafios. Ela era paralítica mas tinha um força interior muito grande e me ensinou a não vacilar  diante das dificuldades. Ao lado da minha casa, tinha também a professora Iracy Bezerra de Morais que também  me passou grandes lições de sabedoria e bondade. No Ginásio São Raimundo Nonato tive o primeiro contato com a língua francesa através da professora Aniete Ferreira Rolim. Como se não bastasse essas três professoras maravilhosas, ainda visitava muito a biblioteca da prefeitura, onde tive oportunidade de boas leituras.(Nesse tempo as pessoas tinham tempo para ler). Nessa época não havia televisão nem internet. Acho que o maior embasamento cultural deve-se a tudo isso. Por que então não valorizar a terra onde comecei a minha vida estudantil?
Aos 18 anos uma fada madrinha chamada Isabel Bitu, minha irmã me trouxe a Fortaleza para conhecer o mar. Acho que havia outra intenção além do mar. Foi muito emocionante.... numa festa de aniversário um médico ortopedista  me encorajou a fazer uma cirurgia na perna que me fez passar um ano sem estudar. Troquei a sala de áula e os livros pelas clínicas ortopédicas e clínicas de fisioterapia. Voltei para Várzea Alegre levando um troféu para meus pais: o aparelho ortopédico  que me deu condições de caminhar melhor sem tantas quedas.Depois vim á Fortaleza para continuar meus estudos. Fiz Letras/ Francês na UFC. Quando colei grau já havia uma proposta de emprego no Centro de Línguas - IMPARH onde estudei e trabalhei durante 25 anos como professora de Francês. Nunca tive grandes luxos, não gosto mesmo. Passei a vida inteira me preparando para fazer a tão sonhada viagem à França que aconteceu em 1999. A coragem e a vitória de fazer um curso de verão em Paris de onde guardo as melhores recordações, tendo a oportunidade de conviver com estudantes russos, italianos, gregos, espanhóis, poloneses e japoneses falando o idioma mais bonito do mundo: o francês. Andar sozinha pelas ruas de Paris e Lisboa sem medo do trânsito e da violência e me achando a pessoa mais saudável desse mundo. Só tenho motivos para ser feliz: a família, os alunos que foram meu instrumento de trabalho que exercia como se fosse um lazer. Ainda hoje recebo homenagens as mais diversas. Justamente no dia 13 de maio de 2011 recebo o comunicado de minha aposentadoria.As pessoas cismam com esse nome mas eu não estou parada, faço tradução.Tenho que agradecer a Deus por estar saudável e poder tomar conta da minha casa que amo e receber meu bom círculo de amizades: aquelas pessoas que são comprometidas com meu objetivo de vida aos 57 anos: SER FELIZ E FAZER OS OUTROS FELIZES.

Fátima Bitu

Estilhaçar - Paulo Viana

 
Não posso descrever o sentimento
Que transbordou do teu olhar distante
Até a luz do sol naquele instante
Não tinham a mesma cor no firmamento
Em mim, configurou-se um tormento
Uma incontrolável aflição
Pois nos teus olhos vi a confissão
Que fez meu sonho desestruturar
Como se fosse o estilhaçar
Do meu inquebrantável coração.

  Paulo Viana

MOMENTO DA POESIA - Por Claude Bloc

Itinerante
- Claude Bloc -


Olhar perdido
Olhar distante
Olhar sentido
Olhar vibrante

Onde anda m/teu pensamento
Neste momento
Naquele instante?
Está retido
Numa saudade
E nesse olhar
Itinerante...

Claude Bloc

Eu não seria quem sou....


Se eu não tivesse sofrido, o que sofri
Se eu não tivesse rido do que ri
Se eu não tivesse vivido o que vivi
Eu não seria quem sou
Por isso, tudo valeu a pena
...Porque estou feliz em ser eu mesmo
Quando ris, sofres, vives, estás te construindo
Deves, portanto, amar o produto final
Pois só tu terás a dádiva de ser tu
Ninguém mais.
Paulo Viana
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Paulinho, você escreveu tudo o que eu estava sentindo hoje, como não sei escrever asim e você me  autorizou...  deixo gravado  no meu blog o que vi no Facebook.  Só eu terei a dádiva de ser eu, ninguém mais. E tem mais: as pessoas precisam me aceitar como sou ou então desistam de ficar perto de mim. Paroles de Fátima Bitu

13 de maio de 2011

Observador do Invisível

Contemplo o silêncio da imensidão escura
Minha perplexidade é alvo das estrelas
Um sentimento profundo de pequenez me atormenta
Bebo a escuridão como se fosse um elixir do improvável
Um confortável sinal da presença espiritual no mundo
Não há limites para a imaginação, para o adentrar-se a universos sombrios
Tenho me recriado a todo instante, me recolocando no espaço cósmico
Nessa inacreditável história de se estar na subseqüência de presentes
Ás vezes sou apenas experimento do caos, outras, desenho espiritual do movimento
E em muitos outros momentos, um solitário observador do invisível
Como se esperasse um lampejo de luz , que pudesse clarear meu próprio sol
Sou ave de um céu inimaginável, flutuante fragmento de uma explosão distante
Um pedaço de nada, vagante, sem fado, pedra faminta de gravidade
Um grão de luz, acesa por um lanterneiro chamado amor
Fagulha pensante, que elege os momentos como únicos
Urgentes oportunidades para triturar o universo e sugar seu néctar
Tragar sua essência, sorver sua lógica, engolir de vez sua razão de ser
Mas o silêncio sideral sempre reverbera em mim
Talvez cada um de nós seja essa ilha universal
Esse reverberador do todo, que se fragmentou na consciência da própria finitude


Paulo Viana

Consagração a Nossa Senhora de Fátima

Para minha saudosa mãe Vicentina


A treze de maio na cova da iria
No céu aparece a Virgem Maria
Ave, ave, ave, Maria!
Ave, ave,ave, Maria!

Os três pastorzinhos cercados de luz
Recebem a visita da Mãe de Jesus
Um susto tiveram, ao verem tal luz.
Mas logo a Senhora da Paz os conduz

Então perguntaram que nome era o seu
A virgem responde: Maria de Deus
Vivamos sem mancha, cristãos sem labéu.
Que a Virgem nos guiem a todos pro céu

 Minha mãe se valeu de Nossa Senhora de Fátima quando tive a poliomielite. Jamais esquecerei de suas orações  pedindo para eu voltar a caminhar.Até hoje esse cãntico de Louvor me remonta ao passado. Hoje, justamente hoje, recebo o Diário Oficial comunicando a minha aposentadoria que andava rolando na burocracia da prefeitura há 6 anos. Pode ser mais uma coincidência mas senti a presença de minha mãe quando recebi o papel. Essa postagem é para você, mamãe!!!
Fafá ( como você se orgulhava de me chamar)

SALVE 13 DE MAIO!

12 de maio de 2011

MOMENTO DA PROSA - Por Claude Bloc

Vida Viajante
-  Claude Bloc -

Fortaleza (clique para ver em tamanho maior)

Não lembro onde li esta frase:”Viajar cura a melancolia”. Creio que, a partir daí, fiz disso um lema, porque acreditei no que li. Eu tinha fases de apatia. Não de depressão, mas de recolhimento. Recordo apenas a impressão que esta frase me causou. Imaginei viagens. Viajei com a poesia. Viajei. Pendurei momentos como esses pelas esquinas do mundo e do tempo e me deixei absorver por esse ensaio de cura. Cura da melancolia.

Os anos se passaram, apagaram-se muitas estrelas na minha vida e, ainda hoje, não sei se viajar realmente é uma cura. No entanto, persiste em mim aquela curiosa impressão de que a frase que li naquele momento foi pura predestinação.

Na verdade, desde então, nunca mais parei de viajar. E a vida foi se pontuando de oportunidades. Até atravessei o país... Fui morar no Rio por oito meses, morei no interior de São Paulo por mais de seis anos e em pensamento me perdi entre mares e desertos, mudei de casa não sei quantas vezes e conheci a poesia mais de perto, perdida na vasta noite da inspiração... Avancei sempre, sem destino certo, tantas e tantas vezes. Mas... com certeza, sempre quis estar de volta aqui, ao Cariri.

O que sei, porém, é que tudo começou nesse dia. Era ainda noite fechada e eu estava na Serra Verde.  Levantei-me e parti em busca de respostas. Fui em direção ao açude Segui a rebentação daquelas ondinhas ali pela margem, apanhei seixos e búzios, contornei a parede do sangradouro; afastei-me de casa o mais que pude. O sono não chegava. Acompanhei a trajetória da lua refletida nas águas. Vi a manhã erguer-se, branca, e envolver o Alto do Caboclo; vi, tudo isso também em outros dias: crepúsculos e noites sobre aquele espelho... e amei a existência com todas as minhas forças.

Nessa noite, adormeci ali, onde calhou: no meio daquela areia granulosa, enroscada em meus próprios braços, como um animalzinho indefeso... Quando regressei, regressei com a ânsia de uma eterna viajante dentro de mim.

Hoje sei que não consigo parar de me locomover prá lá e prá cá. Quantas e quantas cidades conheci assim? Perdi a conta. E aprendi que o/a viajante ideal é aquele/a que, no decorrer da vida, se despojou das coisas materiais e que viaja mesmo quando executa as tarefas quotidianas. Que posso viver mesmo sem possuir muita coisa, mas nunca sem adquirir meu próprio modo de vida.

É assim que tento conduzir a vida: caminhando, com a leveza de quem abandonou tudo aquilo que nada lhe acrescenta. E viajo sempre deixando o coração apaixonar-se pelas paisagens enquanto a alma, no puro sopro dessa caminhada, se recompõe das aflições da cidade.

E foi também dessa forma que, pouco a pouco, aprendi que vejo as coisas de forma diferente do que outros viajantes veem, ao passarem pelos mesmos lugares. Acredito que o olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único.  

Se viajar, não cura a melancolia, pelo menos, percebo que purifica a alma. Traz ao passageiro desta vida a paz de espírito; e deste modo, o corpo reencontra a harmonia perdida - entre o homem e a terra.

Dessa forma tornei-me nômade: ao saber que não fui feita para ficar quieta. Ser sedentário/a me empobrece, mata-me a alma, estagna meu pensamento.

Por tudo isto, como viajante, escolhi caminhar nessa linha. Nela eu canto, escrevo, vivo. Sou uma fagulha que viaja nesse Universo. 

Claude Bloc

Para refletir e debater

Um retrato muito rico sobre a mulher de meia idade na França.

Há quem compare Paris com uma velhinha vaidosa. Se olharmos a cidade imaginando uma mulher de meia idade, chegaríamos à conclusão de que a comparação não é desprovida de sentido.A mulher de meia idade, como a velha Paris, passou pela segunda guerra, quando a França perdeu parte de uma populaçao masculina, sendo obrigada a reestruturar a sociedade, recrutando as mulheres nas fábricas para o aumento da produção, e as incentivando na proliferação da familia, para a recuperação demográfica. A necessidade urgente da participação da mulher aumentou a importância dela. E a importância reconhecida de fato, no dia a dia, passou a lhe dar o gosto de seu proprio valor em relação ao país e de sua independência no que concerne à sua propria vida, nos levando a concordar que a cidade e a mulher são consequências da sua propria historia. A independência deu bons frutos: para a juventude, encorajou a realização de seus proprios sonhos; para a maturidade, provocou o justo orgulho de se saber produtiva .Na meia idade, surge a necessidade de segurar, com garras, a situação de sempre se manter dona de seus proprios atos, do seu proprio espaço, tendo na memória o que fizeram ao país, e o que conseguiram dele. Muita luta explodiu para se chegar ao que a França oferece hoje em dia: hospitais, escolas, transportes, lazer, enfim a base necessária para se viver dignamente, embora atualmente haja reflexões a respeito da precariedade de alguma dessas instituições e da despreocupação em preservá-las. O não recrutamento de novos professores que induzem um grande numero de alunos numa mesma classe e impostos altos estão sempre na pauta das reclamações. Sem nos esquecer do desemprego que provoca uma aposentadoria timida, levando os idosos a uma vida com grande controle de recursos. Muito se fala na solidão que traz a velhice, confundindo o isolamento às vezes preferido pelos idosos, com o fato sofrido de se sentir sozinho. Um fato acontecido em 2001, nos fez pensar a respeito da diferença que existe entre isolamento como escolha, e solidão como um sentimento. Um calor diferente e avassalador assolou a França, principalmente Paris, durante o verão daquele ano. Muitos velhos faleceram nessa ocasião, muitos deles sozinhos, o que aguçou a curiosidade da imprensa. Levantava-se a questão sobre a possibilidade de abandono do idoso por parte da familia. Pesquisas e entrevistas foram feitas, levando à conclusão de que muitos não ESTAVAM sós, simplesmente, ERAM sozinhos nesse mundo. Outros, em nome da independência em que sempre viveram, não aceitaram a partida de férias, mesmo diante da insistencia dos filhos....
Continuando na comparação da cidade com a mulher, na meia idade, se começa a ser ranzinza. E Paris é a rainha das ranzinzas. Mas tanto uma como outra tem vantagens, tem beleza, tem historia. Passar na meia idade e na cidade de Paris é renovar o que vivemos, é acrescentar ao que já temos na memória. É sentir que a obra humana deixa algo aos que se interessam por ela. Igrejas, monumentos, bares, bistrots, beijados por um rio que foi cantado por velhos boêmios românticos e velhos poetas geniais, nos deixam essa mensagem: não importa quantos pitos nós levamos num só dia, pois são apenas beliscões que nos puxam os pés para a terra.