Um retrato muito rico sobre a mulher de meia idade na França.
Há quem compare Paris com uma velhinha vaidosa. Se olharmos a cidade imaginando uma mulher de meia idade, chegaríamos à conclusão de que a comparação não é desprovida de sentido.A mulher de meia idade, como a velha Paris, passou pela segunda guerra, quando a França perdeu parte de uma populaçao masculina, sendo obrigada a reestruturar a sociedade, recrutando as mulheres nas fábricas para o aumento da produção, e as incentivando na proliferação da familia, para a recuperação demográfica. A necessidade urgente da participação da mulher aumentou a importância dela. E a importância reconhecida de fato, no dia a dia, passou a lhe dar o gosto de seu proprio valor em relação ao país e de sua independência no que concerne à sua propria vida, nos levando a concordar que a cidade e a mulher são consequências da sua propria historia. A independência deu bons frutos: para a juventude, encorajou a realização de seus proprios sonhos; para a maturidade, provocou o justo orgulho de se saber produtiva .Na meia idade, surge a necessidade de segurar, com garras, a situação de sempre se manter dona de seus proprios atos, do seu proprio espaço, tendo na memória o que fizeram ao país, e o que conseguiram dele. Muita luta explodiu para se chegar ao que a França oferece hoje em dia: hospitais, escolas, transportes, lazer, enfim a base necessária para se viver dignamente, embora atualmente haja reflexões a respeito da precariedade de alguma dessas instituições e da despreocupação em preservá-las. O não recrutamento de novos professores que induzem um grande numero de alunos numa mesma classe e impostos altos estão sempre na pauta das reclamações. Sem nos esquecer do desemprego que provoca uma aposentadoria timida, levando os idosos a uma vida com grande controle de recursos. Muito se fala na solidão que traz a velhice, confundindo o isolamento às vezes preferido pelos idosos, com o fato sofrido de se sentir sozinho. Um fato acontecido em 2001, nos fez pensar a respeito da diferença que existe entre isolamento como escolha, e solidão como um sentimento. Um calor diferente e avassalador assolou a França, principalmente Paris, durante o verão daquele ano. Muitos velhos faleceram nessa ocasião, muitos deles sozinhos, o que aguçou a curiosidade da imprensa. Levantava-se a questão sobre a possibilidade de abandono do idoso por parte da familia. Pesquisas e entrevistas foram feitas, levando à conclusão de que muitos não ESTAVAM sós, simplesmente, ERAM sozinhos nesse mundo. Outros, em nome da independência em que sempre viveram, não aceitaram a partida de férias, mesmo diante da insistencia dos filhos....
Continuando na comparação da cidade com a mulher, na meia idade, se começa a ser ranzinza. E Paris é a rainha das ranzinzas. Mas tanto uma como outra tem vantagens, tem beleza, tem historia. Passar na meia idade e na cidade de Paris é renovar o que vivemos, é acrescentar ao que já temos na memória. É sentir que a obra humana deixa algo aos que se interessam por ela. Igrejas, monumentos, bares, bistrots, beijados por um rio que foi cantado por velhos boêmios românticos e velhos poetas geniais, nos deixam essa mensagem: não importa quantos pitos nós levamos num só dia, pois são apenas beliscões que nos puxam os pés para a terra.
Queridos colaboradores e seguidores,
ResponderExcluirGostaria de promover um debate a partir desse texto que achei muito interessante. Aguardo.
Fátima Bitu
Muito bom o texto. Nos remete à ideia da cidade, a exemplo dos idosos, ser abandonada em sua parte mais antiga. O texto exige mais leituras, para que possamos nos aprofundar em seu conteúdo.
ResponderExcluirAbraços, Fafá.