1 de março de 2012

Nota de Falecimento de uma Pequena Notável

Sentidos pêsames às irmas ROSILDA E CEILDA. Descanso eterno, CILEIDE!

Faleceu na noite desta quarta-feira, 29 de fevereiro, aos 48 anos de idade, no Hospital Santo Antônio, na cidade de Barbalha, Francisca Miguel Sobrinha, mais conhecida por "Cileide".

Segundo informações de familiares, Cileide apresentou há dois meses um quadro de tristeza, razão pela qual as irmãs, Maria Miguel de Oliveira (Rosinha) e Francisca Reinaldo de Oliveira (Ceilda), decidiram apresentá-la a um médico para uma consulta.

Após a consulta, o médico neurocirurgião, Dr. Carlos Kennedy, que atende em Várzea Alegre no Alto Santo Center, solicitou exames que diagnosticaram a presença de um coágulo no cérebro de Cileide. O procedimento indicado pelo médico foi a extração do coágulo por meio de uma intervenção cirúrgica.

Cileide estava na mesa de cirurgia, quando o seu quadro de saúde se agravou e ela foi levada às pressas para a UTI do hospital, onde faleceu por volta das 22h00.

Cileide, ao lado das irmãs, Ceilda e Rosinha, são exemplos de superação. As três irmãs têm deficiências físicas nos membros inferiores e superiores dos corpos.

A história das três irmãs, que são do sítio Mocotó, distrito de Calabaça, distante 12 km da sede deste município, é conhecida em todo o Ceará, e até no exterior.

A partir da integração de Rosinha, Ceilda e Cileide na Associação Comunitária do Sítio Mocotó, o trabalho de confecção artesanal de redes de dormir, produzidas por elas, ganhou notoriedade e, à reboque, veio à cena a história de superação, contada em jornais e revistas de renome, e também em material de divulgação de redes associativistas.
O corpo da pequena notável Cileide está sendo velado em sua residência, na Rua Chagas Bezerra, 184, bairro Alto da Prefeitura, e o seu sepultamento acontecerá após missa de corpo presente na igreja matriz de São Raimundo Nonato, às 15h00, no Cemitério da Saudade.

Conheça um pouco mais sobre a história das três irmãs em matéria do Jornal Diário do Nordeste, publicada em 20 de junho de 2010.


Rosinha, Ceilda e Cileide,  na frente da casa da família, no Sítio Mocotó, em Várzea Alegre. Abaixo, miniaturas de redes vendidas por R$ 20,00
PATRÌCIA ARAUJO


Varandas de crochê, de tamanhos generosos, são destaques no trabalho feito à mão por mulheres da Associação Comunitária de Mocotó
PATRÍCIA ARAUJO









Ceilda dedica-se à varanda de crochê e Cileide faz de tudo um pouco, a exemplo dos punhos
Na parte física, elas têm um déficit. Em compensação, ganharam atributos e qualidades raras em relação aos seres humanos ditos "normais". As irmãs Rosinha, Ceilda e Cileide, nascidas no Sítio Mocotó, a 12 quilômetros de Várzea Alegre, na região Centro Sul, são exemplos de superação, persistência e sabedoria.

De uma infância pobre, órfãs de mãe e excluídas da sociedade, elas têm visão empreendedora. Portadoras de atrofia nos membros superiores e inferiores, encontraram no artesanato uma forma de gerar renda não só para a família, mas aos moradores locais, por meio da Associação Comunitária de Mocotó.

Produzem redes de dormir, tipo sol a sol, com enorme variedade de cores. Cerca de 90% do feitio é artesanal. Além de toda a montagem das peças, as varandas em crochê, assim como os artigos bordados à máquina, se destacam.

Maria Miguel de Oliveira, ou simplesmente Rosinha, 51 anos, é a mais velha do trio. Desinibida e bem esclarecida, quase não dá chance para as irmãs falarem. De tão expressiva, participou de vários eventos para contar a experiência de superação e geração de renda. Um deles ocorreu no México, em 2007. Lá, foi a única artesã, com necessidades especiais, representando o Brasil.

Rosinha ganhou a etapa cearense do Prêmio Mulher Empreendedora de 2006, iniciativa do Sebrae, na categoria Associativismo, e foi a terceira colocada nacional.

O reconhecimento não é por acaso. Sua luta começou cedo e, com o crochê, conseguia pagar o pau-de-arara para chegar à escola. "Eu era a mais velha e sofri para ajudar a criar meus nove irmãos. Não tinha quem nos desse comida. Esse sofrimento foi uma escola e me levou a buscar outros objetivos", recorda. Ela concluiu o Ensino Médio e o minicurso de Teologia pela Diocese do Crato.

Professora

Sempre teve engajamento nas questões da cidadania, do respeito e da educação popular. Como professora, precisava andar a pé dois quilômetros. De tanto sobrecarregar o joelho, acabou desenvolvendo uma bursite, a qual teve de ser operada há 17 anos.

Sua locomoção depende do auxílio de muleta e uma espécie de bota para encaixar no joelho. Mesmo assim, não para um só minuto. "Aquilo que Deus tirou nas pernas, colocou na minha cabeça", justifica.

Enquanto atuou como agente de saúde, sofria ao constatar as mazelas sociais. Certo dia, numa das visitas de rotina, deparou-se com cena inesquecível: uma criança numa situação de pobreza fora do comum. "Ela tinha dois anos e sete meses, mas só pesava sete quilos, enquanto o normal seria de 15 a 20 quilos", explica.

Para completar, a mãe e a avó da menina também estavam doentes, em fase terminal. Diante do cenário, Rosinha não teve dúvidas e levou a garotinha consigo. No começo, as irmãs Ceilda e Cileide não aceitaram muito a ideia, contudo acabaram se dedicando com todo amor à nova integrante da família. Idanete cresceu saudável. Está com 18 anos, cursa o Ensino Médio, e faz companhia às "mães postiças".

No comando da própria vida

No Natal de 1993, Ceilda e Cileide ganharam de um irmão dinheiro para a aquisição de duas cadeiras de rodas. Embora necessitem do equipamento quando saem de casa, optaram por comprar apenas uma. Com o resto do valor, investiram em matéria-prima para varandas e redes. Atitudes como essa revelam o espírito empreendedor das irmãs de Várzea Alegre.

Apesar de Rosinha ser a porta-voz, Ceilda e Cileide têm também participação importante na história de sucesso da Associação Comunitária de Mocotó.

Francisca Miguel Sobrinha, a Cileide, 46 anos, iniciou no crochê aos oito: "Quando minha madrasta saía de casa, eu roubava as linhas e a agulha dela e começava a aprender sozinha". Ao descobrir a travessura, Elza, a madrasta, ao invés de castigá-la, a ajudou a fazer varandas. Primeiro, Cileide criou um jogo para rede em miniatura. Depois, para uma peça grande: "Era encomenda de um tio. Ele me pagou e isso foi um incentivo. Então, ensinei às minhas irmãs e a várias mulheres da comunidade".

É dela a maior parte dos desenhos das varandas produzidas pela Associação, inclusive os encomendados com o nome personalizado do cliente. Ela também se dedica ao crochê e auxilia na montagem das redes. Nas miniaturas, executa todas as etapas do processo.

Administração

Ainda hoje, Francisca Reinaldo de Oliveira, Ceilda, 47 anos, elabora varandas de crochê, ofício aprendido aos 12. Além disso, ocupa-se na área administrativa da Associação, da qual é presidente pelo quarto mandato. Ela só conseguiu cursar até a 5ª série, porém se garante nas contas. "Sinto-me realizada, viajo para feiras. Gosto de vender, de ver o resultado do nosso esforço". Só lamenta ser proibida pelo médico de dormir de rede. Segundo Ceilda, é prazeroso olhar para trás e ver o que conseguiram: "Nós não temos preguiça nem vergonha. Encontramos uma forma de gerenciar emprego na comunidade".

Aposentadas com salário mínimo, cada uma, as irmãs citam entre as conquistas alcançadas, por meio do artesanato, a casa própria no Centro de Várzea Alegre e o carro, comprado no ano passado.

"Meu pai ajudou na casa com 70% do valor, mas, para o Fiat Uno adaptado, juntamos dinheiro durante sete anos. Agora, tirei a carteira e estou dirigindo pelas ruas de Várzea Alegre. Nem o instrutor da autoescola acreditava que eu ia conseguir", comemora Ceilda.

FRAGMENTOS
Projeto em mutirão

A história das irmãs Rosinha, Ceilda e Cileide começou no início da década de 80, junto a outras nove jovens do Sítio Mocotó que se reuniam na pista para fazer varandas de crochê. Passando pelo local, um grupo da Ematerce e do Ceag (hoje Sebrae-CE) viu a cena. Por meio do Governo Estadual, a Ematerce financiou o material para a construção de um galpão, cujo terreno foi doado pelo pai delas, Simplício, já falecido. Os encontros aconteciam sob uma mangueira, até o prédio ser erguido em mutirão. A Associação Comunitária de Mocotó foi registrada em maio de 1989 e tem 33 pessoas confeccionando redes de dormir sol a sol. Com a organização, surgiram outros projetos, a exemplo do São José, viabilizando água potável e energia. Atualmente, 45 famílias estão ligadas, direta ou indiretamente, à produção.Rosinha, Ceilda e Cileide, na frente da casa da família, no Sítio Mocotó, em Várzea Alegre. Ao lado, miniaturas de redes vendidas por R$ 20,00
PATRÌCIA ARAUJO
Fonte - DIÁRIO DO NORDESTE

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