18 de julho de 2011

Várzea Alegre congelada - por Raimundinho Piau

VÁRZEA ALEGRE CONGELADA

Se eu tivesse congelado
Várzea Alegre antigamente,
Eu voltava no passado
Com a minha boa gente.
Juntava a rapaziada,
Cada um com a namorada
Na rua do Juazeiro.
Afinava um violão,
Cantava a melhor canção
De um poeta violeiro.

Comia um bolo ligado
No café de João maduro,
Que não vendia fiado
Porque não tinha futuro.
Depois eu ia na praça,
Só para flertar com Graça.
Que nunca me deixou quieto.
Comprava lá na esquina,
Dois mil réis de brilhantina
A José Felipe Neto.

Se eu ficasse apertado
Não fazia nem lundu,
Corria muito apressado
Pro beco de Zé Ginu.
Lá do beco a gente ouvia,
Quando o locutor dizia
A mensagem de rotina:
- Com carinho a letra G,
Oferece para a B
O xote Cintura Fina.

Ia lá pra Zé Bitu
Com Dedé e Nicolau,
Para pegar um bigu
No misto de Lourival.
Varria o Cine Odeon,
Depois vendia bombom
Ganhando uma comissão,
Vigiado por Tonheiro,
Porque, dinheiro é dinheiro
Desdobra qualquer cristão.

Comprava o milho cozido
Que Chico Nenem vendia
E o sabugo roído
Rebolava na bacia.
Rezava pra Deus do céu,
Acreditava em Noel
E desprezava o racismo.
Vivia com aquela gente,
Como criança inocente
Sem conhecer o machismo.

Fazia uma serenata
Com Nilton, Caubí e Tércio,
Caçava nambu na mata
Com Manoel de Natércio.
Comia mel com farinha,
Dizia: - Oba Costinha!
E o maluco respondia.
Juntava a turma legal,
Domingo de carnaval
E caía na folia.

Contava com a ajuda
De Cicim de Zé Bile,
Só para roubar o Juda
De Carlito Cassundé.
Eu comprava a Valdelíz,
As flores pra Diassís
Sem ter no bolso um vintém.
Também via no bilhar,
Luís Inácio jogar
Sem perder para ninguém.

Mas tudo foi só saudade
Não deu para congelar,
Porém a minha vontade
Era do tempo voltar.
Mesmo sem congelamento,
Vou guardar no pensamento
Até o final da vida.
É como viver de novo,
Junto com aquele povo
Na minha terra querida.

(Raimundim Piau me enviou por e-mail)

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