- Eu não sei ser fingida, não, Dona Mundinha! Com ela, eu não falo mais. Nem que a vaca tussa! – Esperneia-se Maria do Socorro, após descobrir que o seu marido, Zé Tramela, andava de namorico com a sua melhor amiga.
Maria do Socorro é uma dessas pessoas, que nasceu para servir ao próximo melhor que a si mesma. Uma mulher boníssima, que apesar do seu minguado salário, nunca deixou de ofertar, a sua amiga Cremilda, pequenos presentes, como sabonetes, xampus e desodorantes. Entendia a amizade como algo que estava acima de tudo e de todos e compreendia a necessidade alheia como um monge budista. Enfim, uma pessoa altamente compassiva.
O marido, um namorador de primeira grandeza. Saía com todas. Assim o fazia, por se achar no direito de fazê-lo. Por ser do sexo masculino. Certa vez, pagou uma consulta médica, para que o esculápio explicasse à sua consorte, que era normal o homem ter mais de uma mulher. Falou firme e piscou para o profissional, que o ouviu desapontado.
Maria do Socorro, mesmo sabendo das aventuras amorosas do marido, não conseguia abandoná-lo. Não sei se por acreditar naquela sua necessidade frenética por mulheres ou por amá-lo em demasia. A verdade, é que o suportava e conseguia dividir o mesmo teto e a mesma cama com aquele pegador profissional.
Porém, dessa vez, o caso passou do limite. Estava passeando, ela, num fim de tarde, com o seu filhinho de colo, próximo a bodega de Zé Facebook, quando, quase sem querer, ouviu uma voz afirmar um caso amoroso de seu marido com a sua inseparável amiga Cremilda. Um frio lhe subiu pelas costas parecendo “um ramo de congestão no sangue, que quando dá, arrepia do dedão do pé até o couro do saco”, como dizia seu Mané rezador. Os seus olhos se esbugalharam tentando saltar das órbitas. A sua respiração, ofegante, deixou-lhe cansada e sem atitude, naquele momento de tanta dor e sofrimento. Manteve-se estática. De repente, no auge de seu desespero, dirige-se aos frequentadores daquele movimentado ponto e grita alto e em bom tom, num ato impensado e desconexo:
- E Zé foi ficar logo com aquela fingida... Com a minha melhor amiga... Tão amiga, que eu emprestava até os meus forros a ela, quando vinham seus tempos! – Falou com tanta ira, que não chegou, sequer, a ouvir a piada do bêbado, que se deliciava com a sua inusitada reação.
- Mas ele perseguiu, foi só o seu cheirinho...
Coitada da Maria do Socorro! Ser traída logo por aquela que pensava ser sua amiga, acho que do marido ela já não esperava mais grande coisa. A piada do bêbado foi demais.Adorei essa, Sávio
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