29 de março de 2012

A Eterna Menina - por Fátima Bitu




                       A ETERNA MENINA
Tenho saudade daquela menina que começou a caminhar muito cedo de perninha grossa como dizia sua mãe  mas logo aos dois anos contraiu poliomielite e parou de caminhar. Desde então ficou dependente dos pais e irmãos. Decidiu estudar na escola mais próxima de sua casa: o EDUCANDÁRIO SANTA INÊS onde aprendeu as primeiras lições com DONA ELIZA GOMES CORREIA, a professora que lhe incentivou a lutar. Teve também grandes incentivadores: seus colegas de classe. Quando  precisou mudar para o Ginásio São Raimundo ficou tudo mais difícil porque  dependia de alguém para lhe levar. Foi então que seu irmão Luiz Bitu virou seu motorista de bicicleta, ela se acostumou a curtir seus gostos, daí seu jeito irreverente de ser até hoje. Mais tarde ele terminou o ginasial e precisava estudar fora mas  ainda fez mais: nas férias lhe ensinou a andar de bicicleta o que a salvou de uma atrofia maior. Pedalou demais e nessas pedaladas sempre andava acompanhada de colegas solidários que temiam que a garota não pudesse enfrentar a ladeira até chegar ao ginásio que nessa época já era na famosa PRAÇA SANTO ANTÔNIO. Foi uma dessas meninas que praticamente não teve infância mas não se permitiu ser uma criança-problema.Esperava ansiosa a chegada  dos folhetos da época, conseguia sintonizar com muita dificuldade a RÁDIO SOCIEDADE DA BAHIA e nesse tempo já tinha preferência musical. Ouvia Françoise Hardy cantando TOUS LES GARÇONS ET LES FILLES DE MON ÂGE mesmo não sabendo o que ela estava dizendo mas a melodia lhe tocava profundamente, só muito mais tarde ela foi entender a razão. Suas grandes paixões sempre foram a música e a leitura. Teve colegas da pesada em todas as turmas e era difícil na época acompanhar o ritmo deles mas ela aprontava mesmo que fosse uma teimosia que não participasse ativamente mas os professores sabiam que era ela a autora intelectual. O que mais  curtia na época era a coragem de descer a ladeira na sua famosa monareta rodeada dos amigos cantando: " Pedalando contra o vento sem lenço, sem documento". A garota relembra essa época com tanto carinho que pede aos amigos: Se alguém viu a bicicleta por aí, por favor,  avise porque  essa relíquia  faz parte de sua história. 







2 comentários:

  1. Merece a mais projunda admiração. Isto é verdade, dou fé e aponto a quem interessar possa como exemplo para todos e para tudo.
    Foi o Pai que assim fez,
    João Bitu

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  2. Quando me bate a lembrança daquele tempo dá vontade de escrever e tem que ser naquela hora, senão foge do pensamento. Agora mesmo estava lembrando de papai: ele sempre se referia a mim e a Zezê assim: as duas meninas. "Tenham cuidado com as meninas"..quando ele vinha muito breve para consultas ao sair daqui de casa me agradecia pela acolhida, já pensou? São coisas que pouca gente entende, mas ficam guardadas para sempre, você sabe muito bem a que sentimento me refiro.

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