18 de junho de 2012

A BARREIRA DO ADEUS - Por Vicente Almeida

Esclarecimentos preliminares
 
Muito antes de escrever para os Blogs que sigo fiquei matutando sobre o que deveria versar meus escritos, qual seria a minha linha de postagens. Assim optei por temas de cunho filosófico-educativo levando o leitor a uma introspecção, devendo a matéria produzir bem estar e integração.

A inspiração para escrever, não me vem na hora que quero. Ela chega sempre naturalmente e inesperadamente. Vem às vezes quando estou a caminho para algum lugar, quando escuto uma conversa ou vejo algo bastante significativo. Tudo Pode ser aproveitado desde que a inspiração venha junto. Então rapidamente faço uma anotação para lembrar o assunto que devo abordar ao escrever. Depois, em casa, começo a montar um texto e formatá-lo, até estar completamente pronto para publicação. Isto pode levar uma tarde ou vários dias.

A
minha exigência maior, é comigo mesmo; Preciso escrever algo que valha a pena.

Gosto muuito de falar sobre Religiões, espiritismo, filosofia, astronomia, amor e fé, não para questionar, mas, para juntos nos ajudarmos a esclarecer pontos obscuros em nosso raciocínio. Meu tema favorito é o amor, e tudo que venha a escrever deve girar em torno disto, para que o leitor sinta-se honrado e não agredido.

Verdadeiramente
não gosto de escrever sobre temas políticos, pois sempre envolvem corrupção, agressão e mal estar. Isto todo mundo já faz e me dá uma canseira enorme, por que sei que toda a discussão oriunda de questionamentos políticos resulta em zero benefício, é improfícua e trás mal estar para o lado oposto.

Desta
forma asseguro que meus textos jamais terão conotação desagregadora do bem estar.

Mas, como estamos no Blog "Sou de Várzea Alegre", vou transcrever um conto que fiz em homenagem àquela cidade.

Os personagens que vou citar não são fictícios e integram o "Sou de Várzea alegre"

Minha história começa aqui:

"A BARREIRA DO ADEUS"

Várzea Alegre é a única cidade do mundo que possui uma localidade denominada "A BARREIRA DO ADEUS". Dali partia o seu povo em triste despedida, demandando para as terras do sul, pressionados pelo desemprego e pela fome no século passado. Lá se registrava as maiores emoções, pois, o mesmo lugar era também o ponto de recepção dos que retornavam.

Emocionado com história da barreria, e pela sua transcendental importância, além de ser de pouco conhecimento dos atuais habitantes do lugar, manifestei a vontade de realizar uma incursão no tempo e visitar aquele lugar, em um dia de partida.

Pedi ajuda ao meu amigo "O Inventor Maluco" para nos levar em seu "Túnel do Tempo" durante um desses momentos de despedida. Já viajei com ele exatamente para Várzea Alegre até o ano 2112, onde obtivemos muitas informações sobre o Blog "Sou de Várzea Alegre" daqui há cem anos.

Ele concordou em nos levar. E como a Fátima Bitu havia solicitado um ingresso para quando fizémos nova viagem pedi ao Inventor Maluco que passasse lá em Fortaleza e a trouxesse, pois ela já estava avisada. Aqui chegando, embarcamos os três e foi só dar a partida, instantes depois, estacionamos em meados do século XX, na década de 1950. Devo esclarecer que viajar no Túnel do Tempo tem a mesma velocidade do pensamento. Pense lá, e lá você estará. E assim, num vapt vupt chegamos.

Nossa
nave estacionou invisivelmente, exatamente na "Barreira do Adeus" em um dia de despedidas. Era um domingo e havia muita gente.

Para quem não sabe: "A Barreira do Adeus" era um ponto empoeirado a margem da estrada, quase deserta ainda, entre as residências de João do Sapo e Zé de Ana. Por informações anteriores identificamos as casas e o local, e aguardamos. Em poucos instantes começou a chegar gente.

Observamos
que muita gente se aglomerava, parecendo um dia de domingo festivo. Mas, o que vimos foi muito pranto e emoção. Os retirantes vestidos conforme suas posses, mas com vestimentas limpinhas e em sua mão uma pequena maleta ou um matulão, contendo seus únicos pertences.

Não
pudemos ver o conteúdo desses pertences, mas imaginamos: Uma ou duas mudas de roupa, uma escova, uma rede com lençol e na cabeça uma ideia fixa: Ganhar dinheiro no sul e vir buscar a família.

Seus
familiares que não iam viajar: Estampava no rosto uma grande amargura chamada saudade antecipada. Algumas mulheres em adiantada gestação, e seu olhar demonstrando profundo sofrimento, o rosto inchado, e as lágrimas não cessavam de cair de quatro em quatro, e de quebra há ainda o filhinho em seus braços, de mãos estendidas reclamando o terno abraço do pai, como a gritar "Papai não nos abandone".

Estamos
vendo também muitas mães, chorando abraçadas aos filhos ainda menores de idade que também irão partir. Elas parecem pretender transformar aquele momento, em uma eternidade, mas, infelizmente, o caminhão Pau de Arara, buzina ao longe aponta na curva da estrada, e vem se aproximando.

HORA DO ADEUS.
Agora estamos observando os retirantes procurando sua acomodação nos duros bancos de madeira rustica daquele coletivo primitivo coberto pela poeira da estrada. Uma escada foi improvisada para as mulheres subirem até a carroceria. A única coisa equilibrada entre os que ficavam e os que partiam é que todos estão de coração partido, com exceção dos casais que juntos deixam a terra natal.

O caminhão engata a marcha de partida e vai saindo de mansinho. O choro aumenta, e gritos desesperados das crianças retumbam, são dezenas de mãos de mães, esposas e filhos aflitos, acenando com o olhar fixo naquele caminhão rabugento, barulhento e maldita que para longe está levando parte de seus corações.

Agora
o caminhão já se aproxima da curva para desaparecer em definitivo...

...Já não o vemos mais. Eles levariam algumas semanas para chegar ao destino.

A Fátima Bitu, atenta a todos os detalhes e sendo, ela de Várzea Alegre do futuro, ficou emocionada demais e chorou. Tive que ampará-la e esclarecer que aquela cena, havia passado há quase sessenta anos.

Contudo ela me chamou a atenção para outro detalhe pedindo que eu observasse atentamente um casal que da barreira acenava como a se despedir de alguém. Ambos aparentavam menos de quarenta anos de idade. A mulher estava grávida e Junto deles havia duas crianças. O casal tinha uma incrível semelhança com a Fátima que me sussurrou: Vicente Almeida, esse casal ali, parece demais comigo, puuuxa vida.

Olhei com um olhar perscrutador e deduzi que o casal ali visualizado era seus pais Sr. José Alves Bitu e D. Vicência Alves Bitu, porque a Fátima possuía as feições misturadas de um e de outro e pela data da nossa visita foi fácil concluir que quem estava naquela barriga era também a nossa acompanhante virtual, e os rapazes que acompanhavam o casal eram seus irmãos.

A Fátima chorou emocionada e exclamou: Vicente estou reconhecendo aquele rapazinho mais velho é o João Bitu e o outro, o menino é o Luiz. Ele era aquele mais já se preocupava comigo e me prestou toda a asistência durante minha infância. O que ele fez por mim, jamais poderei pagar.

Depois deste reconhecimento, ela voltou a chorar, pois sua emoção estava além do seu controle, mas se acalmou e encerramos a visita virtual à "Barreira do Adeus", após o caminhão desaparecer na curva da estrada e todo o povo se retirar.

Fátima Bitu, Fotógrafa inveterada antes de partir ainda queria tirar algumas fotos para mostrar aos leitores do Blog, mas o Inventor Maluco alertou que não tentase fazer as fotos, pois lá estávamos invisíveis aos olhos materiais, e não poderíamos trazer para o presente, documentos ou fotos de fatos privativos daquele tempo usando equipamentos que ainda não existiam naquela época como a sua câmera com flash.

Se ela tentasse e o flash disparasse, - dizia o Inventor Maluco, que haveria o risco de nunca mais retornarmos ao presente, por que poderia desencadear uma catástrofe temporal, criando um paradoxo, cujo resultado provocaria uma reação em cadeia, desembaraçando a estrutura de contínuo de tempo e espaço, gerando o caos no passado e desconstruindo o futuro.

- Fiquei pasmo com a explicação do Inventor Maluco! Não entendi nada do que ele falou, mas também não questionei. Percebi que ele não era tão maluco assim como todos supunham. Era apenas um excêntrico, com muitas informações a transmitir. Mas o mundo ainda não estava preparado para reconhecer o genio atrás de suas maluquices.

Então retornamos. Nossa viagem pareceu ter durado quase quatro horas, mas ao chegarmos em casa olhamos o relógio e percebemos que tudo se passou em menos de vinte minutos.

Ficamos com saudades. agora sabemos que "A Barreira do Adeus" foi palco de muitas dessas partidas.

Realizamos outras viagens à "Barreira do Adeus" e todas foram bastante proveitosas.
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Na década de cinquenta em São Paulo, uma cidade chamada São Bernardo do Campo, despontava para a indústria automotiva e cada grupo que partia da "Barreira do Adeus" tinha emprego garantido ao chegar lá. Hoje há mais de quinze mil varzealegrenses naquela cidade sulista. Mas, isto será tema para outra história e outras viagens no tempo.
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Nota do Escritor: O Inventor Maluco é um amigo que encontrei ao sair de férias e visitar um país distante onde falavam um idioma parecido com o nosso.
visitei a cidade dos inventores. Havia um que me chamou a atenção por que ninguém o visitava. Me explicaram que o chamavam de Inventor Maluco, por que ele dizia poder viajar no tempo, por isto todos zombavam dele.
Fui então visitá-lo no Pavilhão destinado a sua oficina e comprovei que ele era um sábio perdido no meio de pessoas incultas. Fizemos grande amizade e ele me convidou para uma rápida viagem no tempo. Receoso concordei! Como poderia dizer não a um Inventor Maluco? Depois daquela viagem, ele passou a me visitar com frequêcia aqui na Vila Encantada e de vez em quando singramos o passado e o futuro em sua nave do tempo. Nunca me disse seu nome verdadeiro, até parece que gosta de ser chamado de "Inventor Maluco."
Ele disse que em nossas viagens no tempo, eu sempre poderei levar alguem. Você poderá ser o próximo.
Escrito por Vicente Almeida
18/06/2012

7 comentários:

  1. A BARREIRA DO ADEUS ficou conhecida como uma de suas melhores postagens entre tanta preciosidade que você escreve todo dia.

    De minha parte e de minha família fica a nossa admiração, o nosso apreço por belíssima adaptação que você fez hoje para o "Sou de Varzea Alegre.

    Se A BITUZADA já lhe admirava muito, hoje você se superou mais ainda em tornar SEU ZÉ BITU, DONA VICENTINA, JOÃO, FAFÁ E LUÍS verdadeiros personagens de um momento de despedida.

    VÁRZEA ALEGRE também agradece a sua homenagem.

    MARIA DE FÁTIMA BITU.

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  2. ... Aí eu disse:

    É Fátima!

    Escrevi esta matéria em 2010 e já foi veiculada em outro Blog de Várzea Alegre, onde realmente foi classificada como a melhor postagem daquele Blog. Inclusive fui agraciado com uma medalha de honra.

    Como autor posso adaptá-la a variadas situações. Mas esta história aqui refere-se a outra viagem ao mesmo local envolvendo novo grupo de viajantes e de espectadores.

    Sobre o Inventor Maluco estou idealizando o seu perfil para dar vida ao personagem e um dia apresentá-lo aos leitores.

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    Em outro conto narro uma viagem que fiz com o Inventor Maluco à Várzea alegre do futuro, no Século XXII. Lá há um edifício destinado exclusivamente a transmitir aos visitantes a história do passado da cidade desde sua fundação no século XIX.

    Vi a nova cidade. Ela estava deslumbrante com imensas Avenidas, Museus, veículos aeroespaciais sobrevoando a metrópole que se tornou Várzea Alegre, inclusive lá tive oportunidade de ver muitas matérias publicadas no "Sou de Varzea Alegre". no século XXI, ou seja, agora.

    Lá no futuro, você gasta pouco tempo para ler sobre o passado. Funciona assim: Procuramos o Museu da imagem, lá dentro é um pavilhão contendo os mais modernos equipamentos que armazenam o histórico de tudo sobre vida da cidade e seus personagens desde o princípio.

    É sempre lotado. Aguardamos nossa vez até sermos encaminhados para uma confortável poltrona, e pequenos sensores auditivos são introduzidos em nossos ouvidos. Em seguida selecionamos o conteúdo que desejamos conhecer, e o equipamento vai passando para nossa mente, as cenas e a história que correspondem aos personagens da época selecionada. Em segundos vemos a cidade e o povo se transformando. É como se você visse dez anos em um minuto.

    Em poucos minutos recebemos informações como se fossem visuais, correspondentes a uma enciclopédia inteira, mas, nada podemos fotografar. As informações ficam gravadas em nossa memória e aqui podemos escrever sobre o que vimos por lá.

    Bom isto é somente um pedacim da minha ficção.

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  3. Fique à vontade para descrever mais e mais sobre o Inventor Maluco onde você idealiza um perfil para dar vida ao personagem e continuar apresentando aos leitores. Ainda lembro quando você publicou a matéria em 2010 e foi agraciado com uma medalha de honra. Parabéns!
    MARIA DE FÁTIMA BITU

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  4. Parabéns Vicente, realmente você faz jus ás medalhas que lhe são oferecidas, pela sua maneira de criar e de escrever as fiscções como se fossem realidades, fatos do dia a dia em nossa existência. Fico mesmo completamente desarmado e de boca aberta contemplando tanda coisa descrita com sabedoria e acúmulo de ilustração.
    Parabéns mesmo, fico aqui mergulhado em minha fragilidade de imaginação e na pobreza de espírito, atrubutos tão fartos em você.
    Receba meu abraço e fique bem à vontade desenvolvento ainda mais seus vastos
    poderes e recursos culturais.
    João Bitu

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  5. ... Aí eu disse:

    Meu amigo João Bitu:

    Faço minhas as palavras de Jesus Cristo quando disse:

    "O que eu faço, você tambem pode fazer".

    Então não sou esta pessoa que você está pintando. As qualidades que você menciona são inerentes a todos, mas, a natureza permite que cada um siga uma direção e procure ser o melhor possivel para atingir seus objetivos.

    Você vê no conto, uma mistura de ficção com realidade. Não é assim mesmo que acontece? A gente fica absorto em pensamentos e de repente sem sair do lugar as lembranças nos levam ao passado e é como se estivéssemos lá naquele momento.

    Fico muito feliz em saber que gostaram de participar da nossa viagem virtual. Isto me dá motivações para continuar escrevendo.
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    Por onde andará a Cleide?

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    1. Meu caro Vicente

      Eu escrevi "fiscçóes" no meu comntário, isto não é admissível nem na mais pura ficção. Desculpe-me.
      Outrssim, quero pedir para vacê continuar nos encantando com os seus variados escrito assiduamente. É um colírio para nossos olhos a vizualização de qualquer coisa partindo de você.
      Um abraço,
      João Bitu

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  6. Vicente Almeida,

    Continue escrevendo. Cada pessoa com seu estilo. A viagem virtual abafou mesmo: 25 visualizações. Isso mostra seu mérito, ninguém questiona isso, é público e notório. A BITUZADA é cheia de cuidados em relação a " posts" porque não temos o hábito de nos expor. Isso é novo "chez nous". Cleide está preparando o niver do neto para amanhã e no domingo 24 será seu " arraiá".Ah! Uma correção: a fotógrafa do sou de varzeaalegre é Cleide, pas moi. Eu sou a briguenta, birrenta como dizem os mais íntimos, rs..Grande abraço,
    MARIA DE FÁTIMA BITU

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