8 de outubro de 2011

08 de outubro - Dia do Nordestino

Nasci em Várzea Alegre, sul do Ceará, pensa numa nordestina arretada,  que  se orgulha de falar cantando!  Falo oxente, vôte, danou-se. Viche, Maria, bixinha.  O meu jeito de falar é o mais fiel retrato da minha terra. Os amigos acham até engraçado porque falo francês cantando. Fico de olho numa mesa farta de pirão, baião de dois, carne assada, mungunzá, canjica, pamonha, galinha caipira, cafezinho com cuzcuz. Delícia! Emociono-me ao ouvir  Chico de Amadeu cantando LINDA BREJEIRA. Guardo as melhores recordações das noites de São João e São Pedro tocadas por aquele sanfoneiro famoso. Adoro um forró pé de serra. No dia de CORPUS CHRISTI me emocionei ao ver passar a procissão diante do condomínio em que moro em Fortaleza. Voltei ao tempo em que morava em Várzea Alegre.Fiquei observando aquelas pessoas sofridas, rezando, cantando em pleno sol quente. Isso me fez voltar à  ladainha, o cheiro de incenso, a matraca da SEMANA SANTA,os pés descalços, o véu sobre a cabeça( minha mãe usava tudo isso e a missa era de madrugada), o terço entre os dedos.A grandeza de uma fé que não se abala. O som do sino repicando na torre da igreja, a chamada da missa. Tudo isso me veio novamente como um bom filme que se assiste 2, 3 vezes.
Admiro o saudosismo, a simplicidade e me emociono também com o improviso do poeta popular, a beleza do maneiro-pau, a alegria da quadrilha, a força de viver, de festejar. O nordestino é acima de tudo um herói, a espera pela chuva... e nos cordéis do tempo se registra a sua história.
Tenho muito orgulho de ser nordestina mas  me aborreço demais quando alguém chega de longe, só porque passou 2, 3 anos fora deixa de falar cantando e fica chiando, fazendo charme falando diferente, envergonhado talvez de sua nordestinidade.

Dedico essa postagem reprisada ao amigo conterrãneo Luiz Lisboa que ao meu ver não abandonou os costumes de nossa terra, nosso povo. Abraço meu....


Ilmorais comentou.....
Fafá, minha amiga,vou fazer uma sabatina, não com você mas para estes que falam chiando.

Sabatina.

Pergunto se vc sabe
Das coisas do cariri
Pra inicio de conversa
Quero saber não tenho pressa
Sabes o que é piqui?

Um penitente,um andor
Um machado, um cavador
Uma roçadeira e uma moita de calumbir?

Um baláio uma rabichola
Um alfore uma sacola
Um calango largatixa
ou um quatir?

Um toco de mororó
Uma arupemba de cipó
O saburar do jatí?

Raspadura tapioca
Um forno de assar beijú
Um jatobá um tamarino
E um fruto de mandacaru?

Sabes o que é cambão
Foice,quicer e lamparina
Oticica marmeleiro
Jurema e tangerina?

Sabes o que é ser fiota
Um contador de lorota
Que quase não sabe o que diz?

Conhece o que é gamela
Sabes o que é tramela
Uma nambú uma cordoniz?

Sabes o que é uma cuia de cabaça
Uma chiminé soltando fumaça
Uma cuscuzeira no fogão?

Sabes o que é serca de arame
Um inchú um capuchú
Numa moita um inchame?

Catar Algodão con o lensol de dormí
O uruvai antes do sol sair
Sedo pisar na lama?

Ao meio dia con sede
A noite dormir na redde
Esteira de palha servi de cama?

Do lado de jirau
Uma bengala de pau
Umas roletas de cana?

Uma queima de tijolos
A goma pra fazer bolos
Uma apragata avaiana?

O que é um testo de panela
Um pirão de costela
E uma cesta de castanha?

E o belo pilão
Um balde de cacimbão
Um jogo de caçuá?

Um piriquito
Caiga de lenha em cambito
Uma arapuca e o fojo de pegar preá?

Sabes o que é um guarda copo
Um pote na furquia de três ganchos
Uma casa de taipa um rancho
Um quebra custela pra jumento não passar?

Já passou num passadiço
Aprontou um reboliço
Bateu com mão de pilão?

Bebeu água na coité
Ou na catemba de coco
Titou maribondo caboco
Usando apenas a mão

Sabes o que é um arataca
Bezerro apoja na vaca
E um vaqueiro aboiá?

Quixó de pegar tatu
Barroca de cururu
Furmiguiro e tamaduá?

Balcão de plantar cuento
Um bichinho fedoreno
Que tem nome de gambá?

SE tu sabes tudo isso
Já rezou pro pade ciiço
Não é um cabra mofino
Tá na cara podes crer
Que um moço quinem vc
Só pode ser nordestino
E pra mode completar
Das quebradas do Ceará
Tu veio embora quando menino

2 comentários:

  1. É...

    Compadre Lisboa é bom no rítmo poético nordestino.

    Gostei, e não conhecia esta poesia.

    Valeu Fátima

    Vicente Almeida

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  2. Lisboa sempre foi muito atencioso comigo.Pena que o perdi de vista, gosto tanto dele. Depois veja minha postagem sobre os 141 anos de Várzea Alegre. Aceito sugestão.Grande abraço,
    Fátima

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