12 de novembro de 2011

Carmina - José Aldenísio

Carmina
Caboca do meu sertão,
cherando a flô de alecrim,
vistido chita pintado
ou camisola de brim,
tomô conta dos caboco
e vai tumá conta de mim.
Quando ela passa banhada,
no corredor do roçado,
ninguém no baixio trabaia
arreparando sua saia,
oiando seu requebrado.
Aí me sobe aquele fogo,
só pensando na disgraça
de casá cum essa caboca.
Esse fogo inté parece
que nem fogo de cachaça,
que butei na minha boca,
pela premeira vez na vida
no butequim lá da praça.
Gosto tanto da danada,
tanta força faz in mim,
qui se a danada chegasse
oiando pra eu mermo assim,
dizendo o que sucedeu
e preguntasse pra mim:
- Você qué casá cum eu?
Eu dizia, quero sim!
Mas isso num acontece
e nem pode acuntecê,
pois um dia no "sítio aberto",
num samba de Zé Ruberto,
quando fui me adivertir,
ela tava cunversando
cum uma caboca assim bem perto.
Cheguei assim e preguntei:
(cuma quem faz uma aposta)
- Você qué casá cum eu?
E ela muito invergonhada,
vermêia e invabulada,
mas porém muito disposta
me olô e respondeu:
- Adispois eu dô a resposta.
E quando foi no ôto dia,
quando o sol vinha nascendo,
chegô um biête dizendo,
dizendo que num quiria,
pruquê era muito nova
e se casá num pudia,
e mermo se ela quisesse
a famia num quiria.
E daí pra cá, seu moço,
eu nunca mais tive paz,
eu vou pras festa sem gosto.
Mas uma coisa, seu moço,
que eu trago dentro de mim,
é o amor dessa caboca,
que nunca mais vai ter fim.
Eu juro por esse sol,
por essa lua, esse chão,
meu roçado, meu distino,
as coisa do meu sertão,
que vou casá cum Carmina,
quer a famia quêra, quer não!
Quando tô desconsolado,
num lugar triste, sozim,
me vem sempre o atrivimento
invadindo o pensamento,
o chêro forte e danado
das fulô de alecrim,
do seu vistido pintado,
da camisola de brim,
entrando de mato a dentro,
tomando conta de mim.

Cara Fafá.
Aí vai a bela Carmina de Jose Aldenísio, publicada no livro: Vôo
livre, Pés no chão.
José Bitu Moreno

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