23 de novembro de 2011

FILHO DA TERRA - Por Mundim do Vale,

Sou filho da terra, sou vento da serra,
Sou chá de raiz.
Sou ave voando, sou peixe nadando,
Sou gente feliz.

Sou chuva caindo, sou flores se abrindo,
Sou rama no chão.
Sou barro de telha, sou mel de abelha,
Sou pé de peão.

Sou rio correndo, sou planta nascendo,
Sou palha de milho.
Sou sol da manhã, sou flor de romã,
Sou pai e sou filho.

Sou mimo de rosa, sou dedo de prosa,
Sou som de chocalho.
Sou pó de urucum, sou quebra jejum,
Sou dente de alho.

Sou nó de imbúia, sou caco de cuia,
Sou gás e pavio.
Sou boca de noite, sou reio de açoite,
Sou braço de rio.

Sou crista de galo, sou dedo com calo,
Sou erva cidreira.
Sou fundo de saco, sou bolo de caco,
Sou teima na feira.

Sou pedra de anil, sou verde Brasil,
Sou olho de água.
Sou bicho do mato, sou unha de gato,
Sou gente sem mágoa.

Sou pau de cancela, sou cravo e canela,
Sou noite de lua.
Sou corda de arado, sou pau de machado,
Sou bico de pua.

Sou pau de bandeira, sou pé de ladeira,
Sou bicho de pé.
Sou feito na hora, sou gente que chora,
Sou homem de fé.

Sou pau de pereiro, sou pena e tinteiro,
Sou mata-borrão.
Sou forte no teste, sou brisa do leste,
Sou pau de tição.

Sou visgo de jaca, sou vira-casaca,
Sou queima de Judas.
Sou cheio de manha, sou teia de aranha,
Sou Deus nos acudas..

Sou gente pacata, sou véu de cascata,
Sou homem capaz.
Sou contra questão, sou bom cidadão,
Sou grito de paz.

Sou fera da mata, sou nó de gravata,
Sou calo na mão.
Sou água do mar, sou luz de luar,
Sou raio e trovão.

Sou bolsa de palha, sou pau de cangalha,
Sou galho de pau.
Sou bicho papão, sou sombra de oitão,
Sou velho babau.

Sou água de pote, sou remo de bote,
Sou verso em cordel.
Sou caldo de cana, sou pura caiana,
Sou favo de mel.

Sou bala trocada, sou fim da picada,
Sou beira de rio.
Sou casca de toco, sou água de coco,
Sou noite de frio.

Sou cinza de lenha, sou mato da brenha,
Sou galho com ninho.
Sou bem comportado, sou bom de recado,
Sou um bom vizinho.

Sou fruta madura, sou erva que cura,
Sou lã de algodão.
Sou pau de giral sou pedra de sal,
Sou mão de pilão.

Sou cerca de vara, sou pau de arara,
Sou manga no cacho.
Sou nó apertado, sou couro ensebado,
Sou fogo de facho.

Sou água vertente, sou sol do nascente,
Sou voz do nordeste.
Sou peixe piau, sou cobra coral,
Sou cabra da peste.


Sou um cidadão feliz
Nascido aqui no sertão,
Tomando chá de raiz
Dançando xote e baião.
Tenho o cheiro da campina,
Da essência nordestina
Que Deus colocou na serra.
Sou um fruto do nordeste,
Que agradece o pai celeste
Por ser filho dessa terra.

Dedicado ao poeta João Bitu, também filho da terra.

2 comentários:

  1. Obrigado Raimundim pela oferenda. Parabéns pelos versos bem colocados e recheados de
    diversidade e prosa.
    Um abraço,
    João Bitu

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Raimundim pela oferenda. Parabéns pelos versos bem colocados e recheados de
    diversidade e prosa.
    Um abraço,
    João Bitu

    ResponderExcluir