28 de abril de 2011

Atendendo a um pedido do amigo Rolim

Quando criança morei perto da igreja matriz da minha cidade, depois mudamos pra uma rua mais distante uns 300 metros mais ou menos. Todas as noites das novenas do padroeiro São Raimndo Nonato, minha mãe e os meus tres irmãos caminhávamos em direção a igreja, percorrendo a rua de acesso a casa de Deus. Era um corredor de cultura popular. Rebequeiros com suas toadas melancólicas sensibilizavam os fiéis, os emboladores com seus desafios alegravam a matutada, velhas sentadas no chão com seus ganzás nas maõs faziam seus apelos, uma esmola por amor de Deus e que te defenda de um mau vizinho. O fotógrafo ambulante com o seu lambe-lambe tirava as fotos dos casais apaixonados. O caipira com sua banca de jogo gritando preta ou morena, deu caipira. O violeiro contando a trágica morte de "Chico Mineiro". O malandro e o tapir com duas cartas de baralho gritando "essa perde e essa ganha". Já outro com um cinto enrolado sobre o chão desafiava a quem passava pra colocar o dedo a ser laçado. Bancas de todos os tipos de guloseimas eram oferecidas aos fiéis. Aluá de abacaxis, tinha o incolor e o colorido, sendo o último mais caro, doces de todas variedades, coxão-de-moça, quebra-queixo, cocadas, pirulitos e o pote com água dormida ao pé da banca para os fregueses matarem a sede. A novidade na época era a "Carmorama", espécie de projetor arcaico em que você colocava o olho no orifício e via os postais do Rio de Janeiro, praia de copacabana, Cristo Redentor e o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Uma viagem inesquecível ficava gravada para sempre em nossa memória. Nem Bill Gates conseguiu até agora deletar. Após a novena o passeio no parque, com a roupa engomada a ferro a lenha e goma, um traje que não se via uma peça amarrotada. Felicidades... gritarias com as rodadas no carrossel, a velha vomitando tonta de tanto rodar, crianças assustadas, chorando, formava um ambiente misto de alegrias, admirações e as vezes medo. Que saudades eu tenho das noites de novena.
Norberto Rolim

3 comentários:

  1. Norberto, essa nossa saudade ninguém pode deletar nem tampouco demolir. A lembrança é nossa e só nossa. Incrível como você conseguiu descrever cada detalhe brilhantemente.Emocionei-me quando você falou em corredor cultural. E era mesmo, para mim, nunca deixará de ser. Lembro até dos preparativos. Quando meus pais ainda moravam no sítio Carnaúbas, claro eu ainda não havia nascido. O mais novo na época era Cícero mas eu lembro dos comentários deles. Nossa tia Isa recomendava aos meninos: "Não corram muito esses dias para não caírem. Zé Bitu e Vicentina já foram às lojas da cidade comprarem as roupinhas da FESTA DE SÃO RAIMUNDO". Meus irmãos mais velhos falavam dessa época com tanto carinho. E agora vejo você bem mais jovem relembrando todos os detalhes. Parabéns, Rolim, você conseguiu me enternecer. Continue escrevendo assim...essas lembranças nos fazem voltar a um passado remoto onde se valorizava a família, a religiosidade, os eventos culturais. Abraço Fafá

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  2. Fafá,jamais esqueceremos o "corredor cultural",aquilo era uma verdadeira aula de música,literatura,artes e culinária.Eu me recordo muito o som da REBECA e o tinado da prata na lata do pedinte.As nossas roupas novas era um verdadeiro desfile de moda.Encabulados ficávamos quando alguém olhava pra gente.

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  3. Pois é, Rolim, era o acontecimento do ano. A pracinha ficava lotada, a salva, a novena, a procissão, o parque: "Lílian, teus olhinhos verdinhos."...lembra? Parece que vc é saudosista como eu também. Apareça sempre na minha nova casa virtual, agora que vc aprendeu o caminho.Obrigada pela sua atenção. Abraço Fafá

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